Muitos cristãos acabam confundindo o ato de realizar a obra de Deus com se dedicar de forma integral à sua congregação, ao ponto de preterir sua família. A igreja é muito importante na vida do servo, pois o Senhor a instituiu. Mas devemos lembrar que ela é composta por famílias. O templo é o local onde as pessoas vão adorar a Deus, ouvir mais de Sua Palavra, se envolver com os afazeres do ministério... Por isso, há quem pense que se toda a sua “casa” é convertida ao Senhor Jesus, basta que se reúnam na igreja. Um grande erro! Afinal, estarem juntos realizando obras eclesiásticas não significa que irão estar em comunhão uns com os outros. A igreja é lugar de koinonia, sim. Porém, é na família que esta unidade deve ser ensinada e praticada primeiramente. Como exigir que um familiar não cristão entenda esta ausência e ainda sinta o desejo de seguir as mesmas práticas?
O pastor e psicólogo Wander Gomes, da Primeira Igreja Batista do Recreio, no Rio de Janeiro, diz que esta instituição será sempre o primeiro campo de atuação de um indivíduo. Se ele se preocupa com a família, este cuidado vai se estender ao Reino de Deus e a todo trabalho que é desenvolvido. “Na minha ótica, a prioridade deve ser este campo familiar onde eu exerço primeiramente os meus dons, talentos e pastoreio. Depois vamos avançando para outras esferas de atuação no Reino de Deus”, afirma.
Alguns maridos acabam negligenciando suas esposas e vivem para os afazeres evangelísticos se baseando no texto bíblico que diz ser preciso deixar pai e mãe para servir a Deus (Lucas 14.26). Sobre isso, pastor Wander afirma que esta é uma interpretação errada das Escrituras. “Na época desta orientação, quando as pessoas aceitavam o evangelho de Jesus, elas eram expulsas de suas casas. Mas, nos dias atuais, e no Brasil, não temos este tipo de situação, na qual a pessoa é colocada para fora de sua residência por decidir aceitar a Jesus. Por isso, seria errado se envolver com a obra e abandonar a própria casa”, esclarece.
Andrea Lima, membro da igreja Batista no Rio de Janeiro, viu esta situação bem de perto. “Eu já era separada do meu marido e tinha minha criança ainda pequena, quando conheci a Jesus. Comecei a gostar muito de me envolver na obra de Deus, o que foi importante e me alicerçou na fé. Então, passei a ter a ilusão de que estar com meu filho dentro da igreja seria suficiente. Mas, ele precisa de sua mãe como mãe e não como a mãe atuante na igreja. Se ele vai comigo para a Escola Bíblica, vai ficar na escolinha dele e eu em outra sala assisto as minhas aulas”, conta ela que só foi perceber isso depois de um ano, quando notou seu filho um tanto irritado. “Vi que o tempo que estava com ele na igreja era mais para trabalhar do que dar a devida atenção. Por isso essa divisão entre ministério e família é muito importante”, afirma.
A Bíblia orienta que em primeiro lugar deve vir Deus, em segundo a família e em terceiro Sua obra. Já que um projeto primordial do Senhor é a instituição familiar. As Escrituras Sagradas dizem: “mas se alguém não cuida dos seus negou a fé é pior que o incrédulo” (I Timóteo 5.8). Veja a orientação que Deus passa sobre a conduta do bispo: "É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, (...) que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)" (I Timóteo 3:2,4 e 5). Então, fica claro que a conduta do homem de Deus deve ser irrepreensível em seu lar. Do que adianta, por exemplo, um pastor ganhar inúmeras famílias para Cristo, e perder a sua para as trevas? Seria isso do agrado do Deus Pai?
E é através da família que os princípios de vida cristã são ensinados de acordo com Palavra de Deus. Na Igreja é onde devem estar os verdadeiros homens e mulheres de Deus chamado para os mais diversos ministérios. Porém, é na família que eles recebem as primeiras orientações, ensinamentos e exemplos. Imagine um pastor, ou líder que cuida de suas “ovelhas” e esquece que em sua casa, os seus ainda não receberam o “alimento” devido. Ou uma serva de Deus que se dedica em tudo na igreja e com seu marido é relapsa, desatenta e sem sabedoria. Certamente, este não é o plano de Deus para seus filhos.
Gisele Alves