Por Paulo Pontes
“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrina de demônios” (1 Tm 4.1).
Vivemos numa época de grande corrupção que avança a cada dia, que se infiltra e se estabelece em todas as esferas e camadas das organizações, dos organismos, das instituições, das comunidades, etc. E é como uma nuvem gigantesca com força avassaladora que cobrindo tudo por onde passa, ofuscando a visão, causando caos e pânico, somados a uma forte sensação de total falta de proteção.
Infelizmente, até mesmo instituições religiosas, especificamente as igrejas, não escaparam dessa nuvem. Com lamento, assistimos nãos poucas notícias na TV, e na imprensa em geral, temos visto e lido notícias do envolvimento e participação de sacerdotes, lideres religiosos, ministros do evangelho, em casos que denigrem o bom nome da Igreja do Senhor Jesus.
As toxinas do mundanismo estão se proliferando por todas as partes contaminando também o ambiente do povo de Deus, invertendo valores, insensibilizando as virtudes, envenenando almas, e corrompendo a sã doutrina. O que nos leva a concluir que, se antes já era um desafio, nos dias atuais não é tão fácil para os servos de Deus conservarem a pureza da doutrina bíblica. Mas também não é algo impossível. A recomendação de Ec 9.8 é tão atual hoje quanto no dia em que foi escrita: “Em todo tempo sejam alvos os teus vestidos e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça”.
Heresias e apostasias também têm invadido as igrejas, onde seus líderes parecem estar de olhos fechados. Para não deixar dúvida, é bom esclarecer o que vem a ser heresia e apostasia.
- Heresia: O termo vem do grego HAIRESIS = escolha; e do latim HAERESIS = opinião ou opção. É o ensino ou a linha de pensamento contrária ou diferente de um credo religioso ou sistema doutrinal.
Na igreja primitiva a palavra "heresia" significava o ensino isolado que causava a separação do cristianismo ortodoxo. Por isso o apóstolo Pedro exortava os cristãos sobre vários falsos mestres que tentariam convencer os irmãos com seus ensinos heréticos (2 Pe 2.1). Nos dias atuais, esta é a forma como a palavra "heresia" é normalmente entendida; é incomum e/ou falso ensinamento aquele que prejudica a fé dos fiéis e também causa facções distintas dentro da igreja. Portanto, escolher uma postura diferente da assumida por uma doutrina oficial, negar os seus principais dogmas, constitui uma heresia.
“Lamentavelmente as heresias sempre seguiram de perto a igreja desde o seu início até os dias atuais”.
- Apostasia: O termo vem do grego antigo APÓSTASIS = “estar longe de”. Não se trata de um mero afastamento, e nem de um desvio temporário. Mas tem o sentido de “afastamento definitivo e deliberado, uma renúncia da fé ou doutrina”.
O apóstata pode pedir formalmente para ser desligado e retirado dos registros da sua denominação.
Segundo a Bíblia, apostasia “é o ato de desviar-se ou afastar-se da comunhão com Deus”. O dicionário Aurélio corrobora isso:
- Separação ou deserção do corpo ao qual pertencia = divórcio/morte;
- Abandono da fé cristã;
- abandono do estado religioso ou sacerdotal.
No livro do profeta Oséias, que leva o seu nome, esse ato, em sentido figurado, é chamado ou entendido como “adultério espiritual”.
Sobre a apostasia, o apóstolo Paulo parece dizer que, apesar de a Igreja ser a coluna da verdade, surgiriam dentro dela grosseiros sistemas de erros, de origem demoníaca, a ensinar abstinência de comidas e de relações conjugais. Era essa uma das formas do gnosticismo, que já naquela época, fazia progresso, e que, mais tarde, chegou a vastas proporções. Esta heresia hoje está quase extinta, vendo-se apenas seus vestígios no pretenso celibato do clero romano e na sua periódica abstinência de carne.
Uma vez que o apóstolo destina esta carta a Timóteo, entende-se que sua aplicação deve-se primeiramente aos pastores e líderes, a fim de prevenir o rebanho; mas também os membros da igreja devem estar atentos, não fechar os olhos e nem fazer vista grossa para o que se prega ou ensina nas igrejas. Convidam-se “pregadores” e “cantores” pela fama e não pela graça e unção de Deus sobre a vida deles.
Existem muitos pregadores e cantores dignos de serem convidados, pois suas mensagens e louvores edificam, transformam vidas, e tributam a Deus a glória que lhe é devida.
Mas também existem outros que se tornaram “astros” e “estrelas” do mundo gospel, cujo objetivo é bem diferente da razão de ser e de existir da Igreja do Senhor. São, na verdade, falsos mestres, falsos pregadores, falsos profetas que introduzem encobertamente heresias de perdição com suas “inovações doutrinárias”, disseminando engano entre o povo, a quem querem agradar e tirar vantagens, e assim adulteram a Palavra de Deus levando os crentes a pecar (2 Tm 4.3).
No meio em que vivemos presenciamos todos os dias “inovações” das mais diversas. Algumas até razoáveis, outras esquisitas, e até anti-bíblicas. Essas inovações não suportam as intempéries do tempo porque são movimentos baseados na presunção na porfia e outros sentimentos carnais (2 Tm 3.1-5).
Não à “inovação” e sim à “renovação”. São duas palavras semelhantes na pronúncia, mas com profundas divergências no contexto doutrinário.
- Inovar: Modificar o antigo; introduzir o novo (novos costumes, novas práticas, novas liturgias, novas maneiras de adorar…).
- Renovar: Mudar para melhor; melhorar em alguns aspectos.
Vejamos o que a Bíblia diz: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela RENOVAÇÃO do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1,2).
Para manter a estabilidade da igreja não se faz necessário copiar os modismos mundo a fora… Se a igreja é do Senhor Jesus, as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18). Mas se alguém está tendo dificuldades administrativas por “apropriação indébita”, ouça a solução que vem do céu: “Devolva a minha igreja!” – Essa frase: “Devolva a minha Igreja” ouvi do pastor Silas Montes (RJ) quando este pregava na programação de comemoração do Centenário-AD, na Grande Terra Vermelha, em Vila Velha/ES.
Observando o projeto de construção da arca vemos algo surpreendente. Na ordem dada a Noé para a construção da arca, constava, entre outras, betumar a arca por dentro e por fora. O que na área naval geralmente se faz por dentro ou por fora. Mas no caso da arca os dois lados foram betumados. A arca betumada por dentro e por fora aponta para a unção do Espírito Santo na vida da igreja (Jo 7.38,39; 14.16-18). Ele dá a proteção diária (Jo 16.12-15). A arca, apesar de ser feita de madeira de gofer, frágil, porosa, e construída pelo homem que é incapaz de salvar, quando recebeu a aplicação do “betume” (como um revestimento por dentro e por fora) – a proteção de Deus, ficou com uma consistência rígida e impermeável, podia deslizar sobre as águas do dilúvio com a segurança de que nenhuma contaminação se infiltraria para o interior da arca, como também o que estava dentro não vazaria para fora. Partindo desse ponto, seria de bom alvitre rever nossos projetos, e retornar ao projeto original.
A melhor maneira de combater os erros incipientes ou os que já prevalecem é repetir sem cessar a simples verdade do evangelho. “Leitura, exortação e ensino” (1 Tm 4.13). A Bíblia fará um bom trabalho por si, se apenas lhe dermos oportunidade, estudando-a em particular, lendo-a e expondo-a em público. Exemplo disso encontramos no livro de Esdras cap. 8 a 10, quando a restauração espiritual teve lugar entre os habitantes de Jerusalém, liderada por Esdras, o sacerdote que leu a Palavra do Senhor (a Lei de Deus) perante toda a congregação, na praça, sobre um púlpito de madeira, e o resultado foi um avivamento singular na história do povo de Deus.
Muitos já não se importam com o estudo sistemático da Palavra de Deus, contentam-se em comodamente sentados ouvirem os sermões, culto após cultos, esquecendo-se que o ouvinte da pregação também deve ser um estudante da Bíblia, conferindo na Palavra a veracidade das mensagens que ouvem (At 17.11). Outros se tornaram crentes domingueiros: nada de reuniões ou cultos de oração, nem escola bíblica dominical, nem mesmo cultos de ensino. Se os crentes de hoje quiserem preservar a sã doutrina, precisam priorizar o estudo da Palavra de Deus (2 Tm 3.15-17). Se os ministros hoje derem ouvido ao conselho do apóstolo Paulo, a Igreja experimentará avivamento genuíno, pois a simples exposição da Palavra de Deus é mais poderosa do que os sermões cheios de trivialidades e bem elaborados.
O Pr. Antônio Gilberto, disse numa entrevista: “Há quem pense que o avivamento espiritual da Igreja caracteriza-se apenas pela manifestação de dons sobrenaturais e operação de milagres. Segundo as Escrituras, avivamento é uma renovação espiritual soberana da parte de Deus, uma sobrenatural intervenção divina entre o seu povo. E isso se caracteriza inicialmente pela fome incontida pela Palavra de Deus. Sempre que uma igreja é despertada pelo Espírito de Deus, ela busca sem cessar a renovação espiritual, a santificação e o conhecimento constante e profundo da Palavra de Deus, tanto na congregação como na vida de cada crente”. (Confira o teor da entrevista clicando neste link).
Em tempos difíceis e de muita heresia, como distinguir o verdadeiro e o falso? Os servos de Deus não podem se deixar levar pelos sinais e manifestações sobrenaturais sem a prévia certeza de que a sua origem é divina (Tg 1.17; 1 Jo 4.1-3). Também, nada impede que o bom senso e a razão sejam utilizados. Não é muito difícil para um crente sincero descobrir ou identificar um falso mestre ou um falso profeta. Eles têm marcas inconfundíveis, e algumas são:
- Desarmonia com a Bíblia. Eles sempre ferem, torcem, subtraem, ou acrescentam argumentos que se chocam com a Palavra de Deus.
- Unilateralidade doutrinária. Escolhem uma determinada doutrina para descarregar suas atenções em detrimento das outras.
- Contradição. Seus argumentos não se confirmam, não tem base bíblica e são anti-bíblicos.
- Incoerência lógica. Seus argumentos não resistem a um confronto.
Os enganadores utilizam vários disfarces para semear suas heresias no meio do povo de Deus (2 Ts 2.15). Dissimuladamente, escondem suas reais intenções e apresentam-se como ovelhas, mas são lobos devoradores (Mt 7.15).
O jornal Notícia Agora, de Vitória/ES, na edição de domingo, 7/11/2004, na página 8, trás a matéria “A busca por respostas em diferentes religiões”, apontando o sincretismo religioso, onde “fiéis freqüentam várias denominações religiosas atrás de cura e paz de espírito”.
(Clique na imagem para ver a versão ampliada)
A matéria deve, no mínimo, gerar um estado de alerta entre a liderança das igrejas evangélicas. Destaque para o depoimento da dona-de-casa L.E.A., espírita que se tornou evangélica. (Até este ponto tudo parece normal, pois esse é o ponto alto da pregação do evangelho – a conversão). Mas a declaração da dona-de-casa é a seguinte: “Se souberem, serei excluída!”. Leia na íntegra o que ela diz:
“Sou batizada nos templos católico, espírita e evangélico. Quando era mais nova, freqüentava a Igreja Católica. Mais tarde, passei a desenvolver minha mediunidade. Há cinco anos estou na Igreja do Evangelho Quadrangular.
Quando Deus te chama não adianta fugir dEle. Sou evangélica, mas não deixei o espiritismo. Trabalho como intercessora na igreja. Faço orações pelos irmãos que me procuram. Só que na verdade, quem está dando conselhos é uma entidade que incorporo. Eu digo: ‘Deus está mandando te dizer…’, mas quem está falando ao meu ouvido é a entidade.
Quando estou no culto e o pastor diz que a igreja receberá o Espírito Santo, na verdade quem se manifesta é uma entidade. Ninguém desconfia, porque eu a disciplinei para que chegue quieta.
Se as pessoas souberem da verdade, serei excluída. Só Deus sabe do meu segredo, pois sou instrumento dEle. Já ajudei a muita gente com minhas orações. Pretendo levar o meu trabalho para outras igrejas”.
Um dos grandes desafios da igreja nestes últimos dias é combater os ardis e enganos de satanás. Na igreja, que é a legítima guardiã da sã doutrina, os crentes devem estar devidamente preparados e alicerçados na Palavra de Deus, atentos à voz do Espírito Santo e comprometidos com o ensino bíblico ortodoxo. Lamentamos que muitos crentes arriscam-se negligenciando nessa parte. E ainda hoje, também um grande número de crentes, e até mesmo certos pastores e líderes, fazem confusão entre doutrina e costumes. Podem parecer a mesma coisa, mas são completamente diferentes. Ensinam e pregam costumes como se fossem doutrina e vice-versa.
- Doutrina: Conjunto de princípios em que se fundamenta a igreja. O elemento inicial básico da fé cristã é o ensino bíblico sistemático.
- Costume: Trata-se do comportamento do crente e sua postura perante Deus e diante do mundo.
- Dogma: Um preceito irrefutável; um ponto de vista indiscutível da doutrina.
A doutrina, por ser bíblica, não pode sofrer adaptações, conforme as circunstâncias da época. É algo que não se negocia. Na Palavra de Deus não se pode mexer. Os princípios são imutáveis. Já os costumes são facilmente manipulados, pois são temporais, culturais e regionais, e podem sofrer adaptações.
Diante desses perigos que ameaçam a igreja os pastores, líderes, obreiros e os crentes em geral devem prosseguir primando pelo ensino bíblico, não permitindo que os modismos, as inovações, e outras coisas irrelevantes com interesses espúrios, firmados no orgulho, na vaidade, na sede pelo poder e outros sentimentos carnais.
Pr. Paulo Pontes
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Informações bibliográficas:
- Bíblia de Estudo Pentecostal – CPAD
- Manual Bíblico – Henry H. Halley – Edições Vida Nova
- Lições Bíblicas – CPAD (Lição 12 – 3Trim/2011)
- Jornal Notícia Agora – Pág.8-Cidades / Vitória(ES), domingo, 7 de novembro de 2004
- http://www.paulopes.com.br/2009/06/casos-de-pastores-evangelicos-pedofilos.html
- http://www.infoescola.com/cristianismo/heresias/
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Heresia
Fonte: http://searanews.com.br/alerta-geral-igrejas-e-crentes-em-perigo/