Gálatas, cap. 4 vers. 1 – 6
Esta passagem faz uma distinção importante entre meninos e filhos, uma distinção, porém, mal compreendida por muitos, quer na sua aplicação figurativa e espiritual, quer no sentido literal da palavra no que dia respeito à vida em família.
Todo o menino é de certo filho de alguém, mas nem todo o filho é menino. E quando já não é menino, não se deve considerar como tal, nem esperar ser tratado com a mesma disciplina como antigamente.
O menino e o servo estão ambos “debaixo dos primeiros rudimentos do mundo”, (Gál. 4. 3), guiados por ordens e mandamentos, sem terem licença de resolver ou escolher livremente.
E não há dúvida que a obediência é a primeira lição que se deve aprender, tanto na família como na casa de Deus. Enquanto a criança não souber rejeitar o mal e escolher o bem (Isaías 7. 15) é muito importante que hajam pais tutores que façam esta escolha por ela, e lhe imponham a sua decisão.
Assim, igualmente, na meninice espiritual do Seu povo, Deus indicou-lhe a Sua vontade na forma de preceitos e leis, que em grande parte dispensaram o exercício espiritual que de outra maneira teria sido necessário para discernir aquilo que lhe era agradável.
Porém agora, em resultado da presença do Espírito Santo infundir no coração do crente o espírito de um filho, não devemos mais contar simplesmente com preceitos para governar cada passo da nossa vida.
“O servo não sabe o que faz o seu senhor”, (João 15.15), nem tão pouco o menino compreende os propósitos de seu pai; mas ambos sabem aas ordens que tem recebido, e o seu dever é cumpri-las, sem precisarem saber o motivo ou o fim da ordem.
Infelizmente muitos crentes querem permanecer nesta condição, e procuram ver na Bíblia um mandamento para cada passo, como se fossem meninos e não filhos. Falam muito de guardar os mandamentos, e talvez tenham pelas paredes da sua casa a antiga lei com que Deus dirigia a meninice do seu povo, mas pouco entende da liberdade dos filhos de Deus.
Não encontrando proibição de ir ao teatro, fumar, ou assistir a certos divertimentos mundanos, julgam que tais coisas são, por consequência, lícitas para o crente.
O que caracteriza o FILHO é que ele conhece os propósitos e a vontade de sua conduta com este conhecimento, sem necessitar que a vontade dele seja prescrito formalmente como mandamento.
O menino e o servo são muitas vezes constrangidos a conformarem-se, contra a sua vontade, com as ordens que recebem; mas o filho, que conhece o amor do seu pai, corresponde no seu coração a esse amor, e, pela inteligência que agora possui, sabe proceder em conformidade com a vontade paterna, que também compreende ser do interesse da família toda.
Quanta benção há para o crente na intimidade e confiança que lhe são próprias para com seu Pai no céu! E quanta instrução encontra em tudo isto para o governo da sua própria casa!
É certo que a vontade de Deus não é somente para ser apreciada em relação aos interesses da alma, mas é para ser aplicada no que diz respeito à nossa vida neste mundo. A maneira como Deus governa os seus filhos traz importantes lições para o governo da casa do crente.
É certo que o pai tem a responsabilidade de resolver e escolher pelo menino, enquanto este não tiver o discernimento para distinguir o bem do mal. Porém é igualmente certo que ele não pode continuar a fazê-lo depois de o filho ter idade e inteligência de escolher por si, e ser, por consequência, responsável pela sua própria conduta; o mais que pode então fazer é aconselha-lo.
Muitas vezes é difícil para um filho, devidamente criado na obediência de menino, assumir a responsabilidade que lhe compete. Lembro-me de um caso em que certo rapaz quis dar um passeio, contra a vontade de sua mãe. Ela, depois de lhe dar o seu parecer sobre o caso, disse-lhe: “Agora, meu filho, faze o que te convém; não te dou mandamento algum”. Ele habituado à disciplina da escola, não se dava com esta nova liberdade. “Diga-me o que tenho a fazer, e isso farei”, disse ele, “Não, meu filho”, foi à resposta, “estás na idade de saber o que deves fazer, sem que eu te mande”. Afinal o amor por sua mãe venceu a vontade própria, e ele cedeu aos desejos dela, mesmo sem ter recebido qualquer ordem.
E aí temos o segredo de um governo permanente. Os pais devem impor obediência aos filhos enquanto meninos, mas depois de jovens, devem dar-lhes conselhos deixando que eles, levados pelo amor, discernem e façam a vontade dos pais. Porém, como é triste que isto seja tão pouco compreendido! Crentes sinceros, e mesmo instruídos procuram subjugar os seus filhos crescidos com a mesma autoridade que usavam com eles quando eram crianças, e então estranham que eles se revoltem contra tal imposição.
Muitas vezes ouve-se oração pelos filhos dos crentes, mas convém também pedir que os pais desses filhos tenham a sabedoria de aplicar o ensino de Gálatas 4, e de não provocar a ira de seus filhos com uma disciplina imprópria para sua idade (Efésios 6.4).
É possível que este escrito, embora dirigido aos pais, seja lido por algum jovem crente que esteja disposto a repelir o estrito governo da família. A esse direi que a sujeição é o que lhe compete; e quando for homem nunca há de lastimar ter obedecido ao governo do seu pai por alguns anos, durante os quais teria podido, é verdade, sentir a responsabilidade das suas próprias ações; porém o caminho de desobediência e rebelião o conduzirá por penosas experiências, que os efêmeros gozos de uma ilícita liberdade de maneira alguma recompensarão.
(Seleções de Leituras Cristãs)
Muito bom!! Esse é o caminho da verdadeira espiritualidade!
ResponderExcluirA Paz do Senhor!