CONFRONTANDO AS MOTIVAÇÕES
Torre ou
Altar? O Drama de Babel
AS
IMPLICAÇÕES DO CRESCIMENTO
A qualidade do crescimento é a chave do avivamento.
Todo processo de crescimento tem o seu preço e as suas conseqüências. O
crescimento é uma espada de dois gumes. Pode ser uma grande benção ou uma forma
de multiplicar problemas e pessoas problemáticas. Apenas produzimos frutos de
acordo com a nossa espécie. Essa é a lei da reprodução, que rege nossa natureza
em todas as esferas. Nossas motivações também determinam a espécie da semente
que estamos plantando. Pessoas enfermas pregam um evangelho enfermo e
contaminado. Esse é o lado negativo do crescimento.
Outro aspecto do crescimento é que
ele flui de Deus. Paulo declara: Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu
o crescimento (I Co 3. 6). Este é um dos maiores segredos da vida.
Podemos semear e regar, mas o crescimento é naturalmente sobrenatural e só vem
de Deus. Jesus declara a mesma questão de forma desafiante:
Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode
acrescentar um côvado à sua estatura? (Mt
6. 27).
Ninguém fica quarenta e cinco centímetros (um
côvado) mais alto de um dia para o outro porque assim o quer ou anseia. É
necessário saúde e, acima de tudo, paciência para crescer.
A ansiedade pode ser um inimigo perigoso, Jesus
adverte. Ignorando isso, muitos líderes acabam obstinados com uma receita
milagrosa de crescimento que descarta a formação de pessoas provadas e
aprovadas por Deus. Formar o caráter de uma pessoa é muito trabalhoso e pode
levar mais tempo do que imaginamos. O crescimento desamparado pela formação de
líderes consistentes pode levar a uma maior perda de tempo, produzindo até mesmo
processos de estagnação.
Uma perspectiva rápida de sucesso sempre foi um
fator consistente de tentação. Alguém já disse que o maior inimigo de um líder
é o sucesso. O sucesso é um campo minado. Muitos pecados sedutores estão
estrategicamente enterrados neste campo. Soberba, independência, estrelismo,
autoritarismo, impaciência e principalmente a vanglória. Chegar ao sucesso pode
até ser fácil, e muitos o alcançam, porém, permanecer nele é para poucos. Aqui
é que muitos abandonam o altar e passam a construir uma torre. O altar é
divino, a torre é humana.
Uma perspectiva de crescimento que
quebra a lei do processo tem sido um laço para muitos pastores, que acabam se
tornando vítimas de métodos certos, porém que atropelam a ética, a vontade e o
tempo de Deus. Acabam edificando sem fazer primeiro o alicerce. Esse tipo de
crescimento pode funcionar por um tempo, porém, não suportará as tempestades
vindouras.
Os
pensamentos do diligente tendem à abundância, mas o de todo apressado, tão
somente à pobreza. (Prov. 21. 4).
Muitos, com medo de perder as pessoas e os recursos
que elas representam, deixam de confrontar seus pecados e espremer suas
feridas. Acabam negociando princípios e valores do Reino de Deus. Essa é uma
péssima semeadura, pois sacrificam o avivamento em prol do crescimento. Quando
se perde o zelo pela santidade, o crescimento é doentio. Assim fica fácil
entender por que algumas igrejas crescem assustadoramente e depois, na mesma
velocidade, diminuem e minguam. O Evangelho sem cruz produz uma igreja fraca,
vulnerável e incapaz.
Mais do que nunca precisamos investir no aspecto
qualitativo, produzindo na vida das pessoas uma motivação pura, uma vida
centralizada nos princípios morais do Reino de Deus e um Evangelho que
glorifica a cruz. Motivações, valores e a mensagem são as três dimensões da
pedra angular do discipulado. Sem um autêntico fundamento nesse sentido, a
formação de discípulos está condenada.
Motivações corrompidas, uma vida
cheia de “poder” e ausente de princípios e um Evangelho sem a cruz são os
ícones da crise de santidade, que acarreta a crise de liderança que hoje assola
a Igreja.
A RAIZ DA
CONFUSÃO
Então
desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens
edificavam; e disse: Eis que o povo é um e todos têm uma só língua; e isto é o
que começaram a fazer; agora não haverá restrição para tudo o que eles
intentarem fazer. Eia, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem, para que
não entenda um a língua do outro. (Gn
11. 5 – 7).
Sutilmente o crescimento pode ser contaminado e
tornar-se até mesmo cancerígeno. Esse foi o terrível drama de Babel quando se
deu a segunda queda da raça humana.
Aqui a unidade se evidencia como um princípio
inquestionável, que produz crescimento sob qualquer circunstância sob qualquer
circunstância. A grande questão, porém, são as motivações. O crescimento é
inevitável, mas as motivações estabelecem a qualidade e o destino do
crescimento. As motivações determinam o caráter, e o caráter determina o
destino. Um princípio certo pode ser totalmente desbalanceado por uma motivação
corrompida. Essa é a maneira pela qual o diabo estrategicamente tira proveito
dos princípios divinos.
Podemos sintetizar a história de Babel dizendo que
é menos pior a divisão do que o crescimento errado. Sendo assim, é
indispensável que saibamos aprender com as nossas divisões a corrigir nossa
motivação de crescer. Sem isso a Igreja pode sutilmente deixar de ser um altar
a Deus e tornar-se uma torre em homenagem a uma personalidade humana.
Muitos ministérios estão vivendo essa
fase crítica, esse conflito, no qual é fundamental discernir se o tempo é de
insistir numa fórmula de crescimento ou aprender com os golpes das divisões
sofridas para, então, poder crescer sobre o fundamento certo, que é a glória de
Deus.
Antes de crescer, antes de Deus nos edificar, Ele
vai escavar alicerces, esburacar, sondar, encontrar terreno firme na nossa
vida. Ele vai gerar motivações certas e um caráter sólido em nossa
personalidade. Essa é uma tarefa árdua e dolorosa. Uma trilha de provas e
situações na qual nossos valores e princípios serão minuciosamente checados e
nossas motivações profundamente corrigidas. Deus só edifica sobre alicerces que
ele fez.
Em Babel presenciamos uma comunidade que estava
edificando sobre um alicerce formado por motivações reprovadas. Não existe
unidade duradoura quando os motivos são errados. Por mais o princípio seja
certo, uma motivação corrompida transforma a situação numa bomba-relógio. É só
uma questão de tempo e o caos se instala. A unidade inspirada por motivos
errados é, na verdade, uma semente de divisão e confusão.
É importante acrescentar que nem
sempre o diabo é o autor da divisão. Deus também executa a divisão como um
juízo que condena nossas motivações obscuras e corruptas.
Continuação: ...
AVALIANDO AS
MOTIVAÇÕES
Disseram:
Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até os
céus, tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda
terra. (Gn 11.4).
Esse texto estabelece a plataforma
motivacional dos moradores de Babel. Motivações erradas podem subitamente
fragmentar o processo de crescimento. Esse versículo nos fala de quatro
transgressões que compunham a motivação daquelas pessoas e fizeram a unidade
resultar num processo condenado de confusão e dispersão.
1) Edifiquemos Para Nós – Egoísmo e
Possessividade
Quando nos referimos à obra de Deus,
a atitude interesseira de edificar para nós é muito perigosa. A motivação
encoberta de edificar para nós expressa uma rebelião aberta contra o senhorio
de Cristo. A grande questão aqui não é o estilo de liderança, mas o espírito de
liderança: Donos ou mordomos? Servos ou senhores? Pastores
ou dominadores? Liderar é orientar, servir e cuidar. Motivacionalmente qual
é a nossa obra? Estamos servindo ou usando as pessoas?
Na carta aos efésios, Paulo declara
que Deus deu à Igreja pastores, mestres, etc., e não deu aos pastores, mestres,
etc. a Igreja. Pertencemos ao Corpo de Cristo, e não o Corpo de Cristo nos
pertence.
Quando nos sentimos donos da obra de
Deus, começamos a manipular as pessoas. As pessoas passam a ser segundo plano.
A vida de oração é substituída por muitas exigências e duras cobranças.
Extingue-se o hábito de depender de Deus. Tomamos nossas próprias decisões independentemente
da autorização de Deus. Amotinamos contra a vontade Deus. Tudo isso acontece
com muita sutileza debaixo de uma capa de espiritualidade.
Esse foi um dos pecados mais graves
da classe religiosa contemporânea de Jesus. Por isso ele os confrontou com
várias parábolas como a da vinha arrendada (Mt 21. 33 – 34), a do mordomo
espancador (Mt 24. 48 – 51) e outras. Essas são pessoas que fizeram violência à
obra de Deus. Pessoas que deixaram de ser servas para se tornarem donos. Jesus
deixa conosco uma pergunta-chave:
Quando,
pois, vier o Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? (Mt 21. 40).
Quando se perde de vista que não
somos mais que simples mordomos, o inimigo começa a implantar várias de suas
estratégias de controle que vão desgastar e destruir os relacionamentos.
Manipulação, dominação, avareza, chantagens disfarçadas e várias outras
atitudes inspiradas pela insegurança e pelo medo de perder o controle e a
reputação vão implodir nosso relacionamento com Deus nos colocando
espiritualmente numa situação na qual apesar de nos sentirmos seguros, na
verdade estamos à beira do colapso.
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