ABIGAIL,
UMA MULHER ATENTA À CONSCIÊNCIA DE UM SERVO DE DEUS
"A beleza íntima duma mulher está quase sempre
dependente da sua relação com Deus." Eugenia Price
I Samuel 25:23-42
As suas mãos moviam-se rapidamente.
Os seus pensamentos corriam ainda mais.
Embora reconhecesse que a situação era séria,
Abigail não caiu em pânico, nem ficou nervosa. Fez os seus planos com calma.
Não se esqueceu de que dispunha de pouco tempo, e de que não podia perder um
segundo.
As palavras do criado, proferidas alguns momentos
antes, ressoavam ainda nos seus ouvidos:
"Veja bem, senhora, o que tem a fazer",
dissera ele, "pois vai haver grandes problemas para o nosso patrão, para
todos nós. Vim ter consigo, porque o patrão é rude e teimoso e não se pode
mesmo falar com ele" (1 Sam. 25:17).
Como a situação era extremamente delicada e
não se podia cometer o mínimo erro, Abigail estava a tratar de tudo sozinha.
Não ousava entregar tais responsabilidades aos criados.
Tinha de pensar rapidamente e com acerto. De
que é que precisariam 600 homens vorazes e que viviam no campo agreste, para
acalmarem a fome? Assim, ela juntou bastantes provisões, havendo reunido
alimento suficiente para satisfazer todos aqueles homens.
Abigail não pensou apenas nas coisas essenciais,
como pão e carne. Cozeu também umas medidas de trigo tostado, 200 cachos de
uvas, deliciosos bolos de figos e dois odres de vinho (v. 18). Queria cuidar
bem dos homens e pretendia levá-los a ficarem bem-dispostos.
Num mínimo de tempo, tudo se arranjou com
eficiência. "Ide à minha frente" – ordenou ela aos criados. "Eu
seguirei atrás de vós" (v. 19). Sob o ponto de vista psicológico era uma
viagem tática. Os servos de Abigail podiam começar o seu trabalho antes de ela
chegar.
Abigail não disse nada ao marido, Nabal, a respeito
dos seus planos, sabendo que as suas palavras não poderiam penetrar através da
sua embriaguez.
Nabal tinha organizado uma grande festa para
celebrar a tosquia anual do rebanho. Era um homem rico, que possuía 3000 ovelhas
e 1000 cabras. A tosquia do rebanho era importante, pois a lã constituía um
artigo vital na cultura de Canaã.
Depois de todo o trabalho haver terminado,
Nabal ofereceu aos tosquiadores (peritos que eram especialmente contratados
para esse fim) uma refeição. E o mais barulhento de todos à mesa era o próprio
Nabal.
O marido de Abigail era descendente de um homem
importante, de Calebe (1 Sam. 25:3). Mas não se parecia absolutamente nada com
esse ilustre antepassado que tinha manifestado um maravilhoso temor de Deus,
visão e coragem. Nabal, cujo nome significava "o tolo" era exatamente
isso – um homem rude e grosseiro que não revelava senso algum nas suas
palavras.
Foi isso o que Davi experimentou quando, por meio
dos seus mensageiros, pediu comida a Nabal para si próprio e para os seus 600
homens. Tratava-se de um pedido normal, pois Davi e os seus guerreiros tinham
formado um muro de proteção em torno dos tosquiadores do rebanho de Nabal, para
impedir que ladrões e nômades vadios os perturbassem durante o trabalho.
Qualquer xeque árabe – mesmo hoje podia ter pedido igual tratamento, sem lhe
ser recusado.
Davi fez modestamente o seu pedido. Tinha-se
aproximado de Nabal com uma atitude submissa e falou-lhe como um filho faria ao
pai. Apesar dessa prudente abordagem, a reação de Nabal foi grosseira e
insultuosa. "Quem é esse tal Davi?" – Perguntou desdenhosamente.
"Quem é que esse filho de Jessé pensa ser? Há muitos servos hoje que fogem
dos donos. Iria eu pegar no meu pão e na minha água e na carne dos animais que
degolei para os tosquiadores e dá-la a um bando que de repente aparece vindo
não sei donde?" (Vv. 10-11)
Esta resposta foi extremamente ofensiva para Davi,
que gozava de grande popularidade em todo o país. As mulheres de todas as
cidades de Israel tinham andado a cantar as suas vitórias (1 Sam. 18:6-7), e
ele já havia sido ungido para ser o próximo rei. Mesmo os servos de Nabal o
louvavam pela ajuda e pela maneira disciplinada dos seus homens 1 Sam.
25:15-16). Ele havia dado provas de uma liderança prudente e forte, mantendo os
seus soldados – que dispunham de poucos meios de subsistência – organizados e
obedientes às suas ordens.
Não obstante estes fatores, Nabal tratou Davi
como uma pessoa sem importância, um rebelde, cujos pedidos não precisava de levar
em séria consideração.
Davi reagiu a este tratamento indigno com uma
explosão de ira. Pouco tempo antes, havia-se recusado a vingar-se de Saul que
tentara matá-lo, e tinha deixado que fosse Deus a julgar a sua causa (1 Sam.
24:4-7). Durante aquela luta com o gigante Golias, que proferia insultos e
maldições, ele havia pensado apenas no nome de Deus (1 Sam. 17:45-47). O homem
que mais tarde seria conhecido na história como "o homem segundo o coração
de Deus" (Atos 13:22) não pôde ignorar este insulto pessoal. Quis
vingar-se imediatamente.
"Cingi, todos vós, as espadas", ordenou
ele. "Nenhum homem da casa de Nabal escapará com vida. Amanhã de manhã
teremos acabado com todos eles" (1 Sam. 25:13,22). Para se vingar da
ofensa de Nabal, Davi seguiu para a casa dele com 400 homens.
Entretanto, Abigail montou num burro e dirigiu-se
ao encontro de Davi. Sendo uma mulher suficientemente humilde para dar ouvidos
ao conselho de um criado, ela revelou ao mesmo tempo bastante força moral e
coragem para enfrentar a ira de Davi. Possuía um espírito brilhante e era
atraente, inteligente e sábia. Embora o significado do seu nome fosse "o
meu Pai (Deus) dá alegria", ele não refletia as circunstâncias que ela
estava a atravessar, presa como se sentia por causa do casamento com Nabal. Só
vagamente se pode imaginar o que poderia significar a vida com um tal insensato
para uma mulher tão crente e sensível.
Certamente que não era esta a primeira vez em
que Abigail tentara reunir as peças quebradas pelo marido. Quando ela se encontrou
com Davi, as suas palavras provaram isso. "Foi tudo por minha culpa,
senhor", disse ela, "eu não vi os mensageiros que enviou" (v.
25). Por outras palavras, tentava dizer: "Se eu os tivesse visto, tentaria
usar a minha influência para evitar este problema".
A atitude de Abigail revelou-se ao mesmo tempo
prudente e impressiva. Embora ela chamasse tolo temperamental ao marido,
identificava-se com ele no reconhecimento da ofensa. Na sua atitude e nos atos
que dela resultavam, seguiu o mesmo princípio que outros grandes homens de Deus
iriam seguir. Por exemplo, Neemias (1:4-11) e Daniel (9:3-19) iriam mais tarde
identificar-se com a culpa do povo judeu que desobedeceu a Deus. Abigail não
pediu perdão para Nabal; pediu-o simplesmente para si própria.
A atitude desta mulher, bem como as suas palavras,
impressionou Davi. Logo que os dois grupos se encontraram no caminho e Abigail
viu Davi, desmontou-se imediatamente e inclinou-se profundamente diante dele,
com respeito. O futuro rei de Israel e servo de Deus, que tinha sido maltratado
pelo marido como se se tratasse de uma pessoa indigna, recebia agora honras
dela. Os homens com quem Nabal não quisera gastar a sua água, tinham agora
vinho que lhes era oferecido pela esposa.
Salomão disse mais tarde que um presente alarga o
caminho a uma pessoa e leva-a à presença dos grandes (Prov. 18:16). Abigail
experimentou essa lição. Os presentes que enviara à sua frente tinham suavizado
o coração de Davi e esfriado a sua fúria. A sua chegada e palavras podiam então
fazer o resto.
O que ela continuou a dizer mostrou tal sabedoria e
discernimento, que se podem descrever melhor com o que Tiago chamou mais tarde,
no Novo Testamento, "sabedoria do alto". Tal sabedoria é
"primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de
misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia" (Tg.
3:17).
O que mais impressiona em Abigail é o fato de ela
não exibir uma frente falsa. Manifestou-se como realmente era. As
circunstâncias não lhe tinham dado tempo para refletir madura e antecipadamente
sobre a situação. Não tinha havido tempo para reunir força e coragem, ou
sabedoria. Não tinha havido tempo para bravata intelectual ou espiritual. Não
podia pretender ser diferente do que realmente era, pois, as tempestades da vida
arrastam qualquer capa que não faz parte integrante da própria pessoa. As suas
reações imediatas tornam-se então o traje com que é vista.
Foi essa a atitude de Abigail para com o Deus
santo. O seu coração tremia diante dEle. Amava-O acima de tudo, estava
convencida de que acima de tudo o mais, o ser humano tinha de O honrar. Tinha a
certeza de que ninguém poderia tentar iludi-lo. Ele não podia ser enganado, e
as conseqüências de tal tentativa seriam deploráveis.
Deus tinha abençoado ricamente Davi. De
repente, quando ela o enfrentou, Abigail viu que as bênçãos que Davi havia já
experimentado seriam pequenas comparadas com o que o Senhor planeava ainda
fazer pelo futuro rei.
Do seu profundo respeito por Deus, esta mulher
colhera amor pelo Seu servo, por este seu semelhante. O seu amor era puro,
sincero e espontâneo. Através da sua dependência de Deus, Abigail manteve
também uma atitude correta em relação a si própria. Em vez de pensar unicamente
em si, era modesta e evitava a autocomiseração.
Embora usasse todo o tato para salvar a vida
de Nabal e dos seus homens, parecia ser levada por uma motivação mais profunda.
Estava a pensar naqueles que nesta situação estavam ameaçados pelo desejo de
vingança. Numa fúria cega, Davi e os seus homens estavam prestes a cometer um
pecado que iriam lamentar para sempre. O crime que estava quase a ser
perpetrado seria irreparável. Um pesado fardo sobrecarregaria a sua consciência
pelo resto da vida. A mancha de sangue, tanto dos inocentes como dos culpados,
ficaria nas suas mãos.
Abigail recordou a Davi o favor de Deus que ele
desfrutava, a proteção toda especial de que estava sendo alvo. Chamou a sua
atenção para o futuro privilegiado que o esperava sob a mão bendita de Deus
como futuro rei de Israel. O nome de Davi estava ligado ao nome de Deus.
Rejeitando Davi, Nabal tinha desonrado o nome do Senhor, mas o futuro rei
estava também a ponto de lançar uma mancha indelével sobre esse nome. Num
ímpeto de sede de sangue, estava disposto a tomar nas suas mãos os seus
próprios direitos e a matar pessoas inocentes.
Abigail estava convencida de que Deus castigaria
Nabal por causa da sua impertinência para com o Seu ungido. Mas estava
igualmente certa de que Deus não precisava de Davi para executar essa punição.
Não repreendeu Davi. Pintou simplesmente as conseqüências da sua precipitada
decisão, começando o seu apelo com estas palavras: "Vive o Senhor" (1
Sam. 25:26). Apresentou-o corri uma eloquência tão natural, que o poeta Davi
teve dificuldade em não se deixar fascinar pelo seu estilo.
Na sua carta aos Coríntios, Paulo escreveu que todo
cristão devia buscar o bem do seu próximo (1 Cor. 10:14-24) e devia evitar o
fender a qualquer pessoa (1 Cor. 10:32).
Abigail tinha a sua vida centralizada em Deus.
Colocava-O em primeiro lugar nos seus pensamentos e tomava-O como exemplo em
tudo o que dizia. Não pensava apenas na vida do marido e dos seus
trabalhadores; estava preocupada com a reputação de Davi. Reputação de Davi.
Via as coisas à luz dos planos de futuro que Deus tinha traçado para ele.
Portanto, o seu apelo baseava-se no que era melhor para Davi e não nos
interesses dela. A sua força motivadora era o amor por Davi como seu
semelhante.
O que Abigail desejava aconteceu. A consciência de
Davi acordou. O seu apelo, baseado no caráter de Deus e no Seu soberano poder,
deixou-o desarmado. "Bendito o Senhor Deus de Israel que te enviou ao meu
encontro, hoje!" – Exclamou Davi. "Graças a Deus pelo teu bom senso!
Bendita sejas por me teres impedido de matar os homens e exercer vingança por
minhas próprias mãos. Pois eu juro pelo Senhor, o Deus de Israel que me guardou
de te ferir, que se tu não tivesses vindo ao meu encontro, nenhum homem da casa
de Nabal estaria ainda vivo amanhã de manhã" (1 Sm. 25:32-34).
Com estas palavras, Davi agradeceu à mulher
que tinha estado atenta à sua consciência e o guardou do pecado e do remorso.
Por causa da sua abordagem direta e espiritual do problema, ele descobriu quão
nublada era a sua própria visão, quão egocêntrico tinha sido por causa do seu
envolvimento pessoal. Davi restabeleceu então uma visão adequada de Deus, que
através desta mulher o havia impedido de cometer um erro terrível.
Abigail, que reconhecia plenamente a extensão e o
alcance que teria tido o plano de Davi, agiu, portanto, com sabedoria e
discernimento. Não só impediu um homem de se tornar um assassino, mas salvou a
reputação de um futuro rei. Davi, um homem tão altamente respeitado, que as
gerações futuras iriam referir-se a Jesus Cristo como o "Filho de
Davi", não se desrespeitou a si mesmo. Conseguiu dominar a sua ira, e por
esse autocontrole conseguiu uma vitória maior do que se tivesse conquistado uma
cidade (Prov. 16:32).
Todavia, o mais importante de tudo foi o fato de
Davi não ter pecado contra o Senhor. Ele não deu tristeza a Deus. Os inimigos
do Senhor não tiveram oportunidade de escarnecer do Seu santo nome. "Vai
em paz para tua casa. Vê que eu ouvi as tuas palavras e atendi o teu
pedido" (1 Sm. 25:35). Foram essas as palavras com que ele a despediu.
Abigail tinha visto corretamente a situação. As
coisas transformaram-se na vida de Nabal. Quando ele ouviu da esposa, na manhã
seguinte, o que tinha acontecido na véspera, a sua reação de fúria e medo
resultou num ataque. Dez como dias mais tarde, morreu, experimentando no seu
corpo a verdade de que ninguém pode escarnecer de Deus e permanecer impune.
Quando Davi ouviu a notícia de que Nabal tinha
morrido, louvou e agradeceu a Deus por lhe ter dado o que merecia. Deus tinha-o
guardado de resolver os problemas pelas suas próprias mãos. Davi demonstrou
então a impressão inesquecível que Abigail lhe tinha causado. Imediatamente,
sem perda de um minuto, pediu-lhe para se tornar sua esposa, e Abigail
concordou " «Quando o Senhor te fizer grandes coisas, lembra-te de
mim!" (V. 31), recebeu um cumprimento surpreendente. Ela sabia por
experiência quanta solidão podia existir num casamento onde os cônjuges tinham
pouco em comum; mas agora tornava-se a esposa de um homem com quem partilhava
muitas coisas: coragem, fidelidade, um intelecto vivo e discernimento
criterioso.
Todavia, a maior unidade de Davi e Abigail estava
nas suas atitudes para com Deus, que possuía o primeiro lugar no coração dos
dois. Abigail, altruísta, verificou como Deus podia usar todas as coisas para
bem daqueles que O amam (Rom. 8:28). Inesperadamente havia-se transformado numa
esposa do rei de Israel. Infelizmente, era apenas uma das oito esposas de
Davi (2 Sm. 3:1-5, 13; 11:26-27). Seguindo o exemplo de outras cortes
reais do seu tempo, Davi não se tinha restringido ao pacto de um casamento
monógamo dado por Deus.
A atitude de Abigail para com Deus e o seu
semelhante, e o seu raciocínio modesto, impediu um dos maiores homens da
história de lançar o seu nome na lama.
Por meio do apurado discernimento de Abigail e da
maneira como abordou uma situação difícil, Davi teve a oportunidade de
continuar diante de Deus como estava, o homem segundo o seu coração. Pôde assim
cumprir o propósito para o qual ele e todo o ser humano foi criado: honrar o
nome do Senhor (Ap. 4:9-11; 5:11-14). Como futuro rei, teria perdido
absolutamente essa oportunidade, se uma mulher não tivesse entrado na sua vida
no momento próprio e vigiado a sua consciência, guardando-o assim de ofender a
Deus.
Abigail, uma mulher atenta à consciência de um
servo de Deus
(I Samuel 25:23-42)
Perguntas:
1. Enumere algumas das características mais
importantes de Abigail.
2. O que o impressiona quando examina a sua atitude
em relação a Nabal?
3. O que é que prova que Abigail possuía a
"sabedoria do alto"? (Tiago 3:17).
4. Salomão tem muito a dizer sobre a maneira de nos
tornarmos sábios (Provérbios 1:7; 2:1-6; 9:10). Quais são os passos necessários
para adquirir sabedoria?
5. Quais são as possibilidades que temos hoje em
dia de adquirir sabedoria de Deus e que faltavam a Abigail?
6. Qual é o princípio mais importante que aprendeu
desta mulher? Como é que ele irá influenciar a sua vida?
Fonte: Livro Seu Nome é Mulher 2
Fonte: http://sermaoesbocos.blogspot.com.br/2013/12/abigailmulher-de-nabal.html
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