Um dos momentos mais interessantes da História
das Assembleias de Deus no Brasil foi o encontro da CGADB ocorrido em
1968 na cidade de Fortaleza, Ceará. Segundo o escritor Silas Daniel no livro
História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil “os reflexos da
Revolução Sexual já atingiam as igrejas, preocupando os convencionais”. As
discussões começaram por um pastor catarinense; Satyro Loureiro, que perguntou:
“Qual a atitude das Assembleias de Deus no Brasil em relação às minissaias e
aos cabeludos que estão tentando invadir as igrejas?”
Não é preciso dizer que nas páginas
seguintes os debates foram intensos, sobrando até para o respeitável Mensageiro
da Paz, órgão oficial da igreja, pois segundo um pastor, estaria o MP
publicando em suas matérias “fotografias de moças e senhoras com vestidos
curtos e cabelos com penteados fora do comum”. Como não poderia deixar de ser,
as deliberações dos convencionais foram de condenação aos “costumes mundanos”,
e de maior rigor nesses casos.
Anos 60: grandes
transformações na sociedade, sentida até nas Assembleias de Deus
Entrou também na pauta dessa convenção
o uso de anticoncepcionais. A pergunta surgiu do pastor Álvaro Motta que
questionou: “Qual a posição das Assembleias de Deus no Brasil com relação ao
uso das pílulas anticoncepcionais, com finalidade de controlar a natalidade, ou
melhor, limitar o número de filhos? Devemos permitir ou não?” Segundo Daniel o
“plenário se manifestou em peso contrário ao uso de anticoncepcionais”.
É interessante observar esses debates,
pois através deles, podemos analisar as pressões sociais que viviam os membros
das Assembleias de Deus no Brasil. Os anos 60 foram de profundas mudanças no
mundo capitalista e ocidental. Grandes transformações culturais estavam
perpassando toda a sociedade e influenciando a música, moda, comportamento e
sexualidade. A descoberta e a comercialização da pílula anticoncepcional estava
revolucionando as práticas sexuais, onde até então, o sexo era visto
simplesmente como meio de reprodução e não de prazer. O anticoncepcional dava à
mulher a oportunidade de uma relação sexual mais livre e sem medo de uma
gravidez indesejada.
Pode-se perceber que justamente no auge
desses anos de mudanças mundiais, a igreja sente em seu interior a influência
de tais transformações. Está implícito no texto, que os membros, principalmente
os mais jovens, estavam aderindo a essas mudanças. Ou seja, os pastores
percebiam que seus membros não estavam imunes ao “mundo”, mas desejavam como
parte da sociedade da época seguir as tendências do momento.
É comum em ao ler essas deliberações da
CGADB, julgar os líderes assembleianos com as informações que dispomos hoje, e
taxá-los de atrasados ou coisa parecida. Devemos sempre lembrar que os pastores
eram homens na sua maioria de origem rural, com pouco grau de instrução e
fortemente apegados aos valores conservadores da sociedade vigente. A sociedade
também era conservadora. Não eram só os pentecostais que condenavam as modas e
costumes gerados durante os anos 60. Não eram só os assembleianos que
condenavam o uso de anticoncepcionais, mas grande parte do corpo social no qual
estavam inseridos. Tanto é assim, que nas leituras sobre os debates, alguns
pastores se utilizavam de artigos escritos por não evangélicos para reforçar
seus pontos de vista.
O único problema talvez seja que,
enquanto as mudanças avançaram na sociedade, as Assembleias de Deus se fecharam,
continuando numa postura ultraconservadora, e assim perderam muitos membros
nascidos ou criados nessa geração, durante ou pós 68.
Postado por Mario Sérgio às 16:57
Nenhum comentário:
Postar um comentário