FRIDA VINGREN: DESABAFOS NO MENSAGEIRO DA PAZ
A memória da pioneira Frida Vingren, ultimamente tem sido alvo nos
últimos anos de várias discussões e polêmicas. Esquecida pela historiografia
oficial das Assembleias de Deus, sua atuação, direção e ministério à frente da
nascente igreja pentecostal, tem sido de certa forma "resgatado",
tanto pelos historiadores assembleianos, como pelos estudiosos não ligados à
denominação.
Gedeon Alencar levanta algumas
hipóteses sobre a atuação dessa senhora no início do trabalho pentecostal
no Brasil. Para ele, com Gunnar Vingren quase sempre doente e enfermo, era ela
quem dirigia a igreja na cidade do Rio de Janeiro; tanto na ausência como na
presença do esposo. Ela pregava, dirigia, cantava, tocava, escrevia, ou seja,
exercia inúmeras funções na igreja. Porém, Frida e seu estilo de liderança, não
foram aceitos pelos líderes da AD no Brasil, os quais na primeira Convenção
Geral decidiram que:
As irmãs têm todo o
direito de participar da obra evangélica, testificando de Jesus e a sua
salvação, e também ensinando quando for necessário. Mas não se considera que
uma irmã tenha função de pastor de uma igreja ou de ensinadora, salvo em casos
excepcionais mencionados em Mateus 12. 3-8 (uma referência ao princípio de
necessidade). Isso deve acontecer somente quando não existam na igreja irmãos
capacitados para pastorear ou ensinar.
A decisão da Convenção ocorreu em
setembro de 1930. Cinco meses depois, Frida Vingren escreve um
vigoroso artigo no Mensageiro da
Paz. Poderia ser simplesmente mais um texto, dos vários que ela
escreveu ao periódico assembleiano. Porém esse artigo, escrito pouco tempo
depois da primeira Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, expõe
muito do que a história oficial não revela. Com o título de Deus mobilizando suas tropas, a
senhora Vingren desabafa, crítica e expõe claramente sua posição em relação a
decisão da Convenção de pastores. O texto começa, com a argumentação de que
Deus está mobilizando seu povo para a batalha espiritual, e precisa de todos os
materiais e instrumentos para realizar sua obra aqui na terra. E é no
desenvolvimento da escrita, que Frida expõe o seguinte:
Despertemo-nos, para
atender o chamado do Rei, alistando-nos nas suas fileiras. As irmãs das
"assembleias de Deus", que igualmente, como os irmãos têm recebido o
Espírito Santo, e portanto, possuem a mesma responsabilidade de levar a
mensagem aos pecadores precisam convencer-se que precisam fazer mais do que
tratar dos deveres domésticos. Sim, podem também, quando chamadas pelo Espírito
Santo, sair e anunciar o Evangelho. Em todas as partes do mundo, e
especialmente no trabalho pentecostal, as irmãs tomam grande parte na
evangelização. Na Suécia, país pequeno com cerca de 7 milhões de habitantes,
existem um grande número de irmãs evangelistas, que saem por toda parte
anunciando o Evangelho, entrando em lugares novos e trabalhando exclusivamente no
Evangelho. Dirigem cultos, testificam e falam da palavra do Senhor, aonde há
uma porta aberta. (Os que estiveram na convenção em Natal e ouviram o pastor
Lewi Pethrus falar desse assunto sabem que é verdade). Por qual razão, as irmãs
brasileiras hão de ficar atrasadas? Será, que o campo não chega, ou que Deus
não quer? Creio que não. Será falta de coragem? Na "parada das
tropas" a qual teve lugar aqui no Rio, depois da revolução, tomou também
parte, um batalhão de moças do estado de Minas Gerais, as quais tinham se
alistado para a luta. (MP 1º de fevereiro de 1931 p.6)
Frida, publicamente contesta a
resolução da Convenção Geral. Revela informações atribuídas a Lewi Pethrus de
que as mulheres na Suécia tinham liberdade de pregar, evangelizar e trabalhar
em caráter exclusivo na obra pentecostal, enquanto que a resolução da CGADB
dizia que as irmãs poderiam testificar e ensinar, mas somente poderiam de
fato exercer o ministério em casos excepcionais.
Nota-se o argumento de Frida já
desenvolvido por ela em outro artigo publicado no Boa Semente (periódico antecessor
do Mensageiro da Paz), no qual ela fala sobre a presença do Espírito Santo na
vida do fiel, e capacitador tanto de homens como de mulheres ao ministério da
palavra. Para ela, ministério não era questão de gênero, de ser homem ou
mulher, mas dom do Espírito Santo a sua igreja.
E para reforçar seus argumentos, Frida recorre a um
evento do qual ela foi testemunha ocular: a Revolução de 1930. Sendo moradora
da então Capital Federal, ela testemunhou a chegada das tropas revolucionárias,
e entre essas tropas ela viu com entusiasmo um "batalhão de moças do
estado de Minas Gerais, as quais tinham se alistado para a luta". É nesse
fato secular, que Frida apoia seus argumentos, para que as mulheres
pentecostais fossem além de suas obrigações domésticas. Interessante é que
ainda na década de 30 as mulheres conquistam seu direito de voto e participação
política no Brasil.
Percebe-se assim, no texto da pioneira, aquilo
que a história oficial não revela, ou seja, um inconformismo, um sentimento de
indignação pelo fato das mulheres das ADs no Brasil serem relegadas a um
segundo plano na prática ministerial do pentecostalismo daquela época.
Fontes
ALENCAR, Gedon. Assembleia de Deus-origem, implantação e
militância (1911-1946). São Paulo: Arte Editorial, 2010.
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio
de Janeiro: CPAD, 2007.
DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias
de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
Mensageiro da Paz. 1º de fevereiro de 1931. Ano 1 - nº3, p.6
Fonte: mariosergiohistoria.blogspot.com.
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