EXISTE MESMO A CULTURA DO ESTUPRO?
Há alguns dias, depois que veio à tona um caso de estupro coletivo, no Rio de
Janeiro, muitos formadores de opinião, inclusive pastores, têm afirmado, de
modo peremptório, que existe no Brasil a “cultura do estupro” (rape culture),
termo cunhado por feministas, nos Estados Unidos, nos anos de 1970. De acordo
com sociólogas e antropólogas militantes do feminismo, estamos, sem dúvida,
diante de um fato social, termo criado por Émile Durkheim (1858-1917) para
designar um fenômeno geral (ocorre em todos os lugares), exterior (não
é praticado apenas por um indivíduo) e coercitivo, pelo qual se
molda uma sociedade, como leis, preconceito, cultura, uso do telefone celular
etc.
A “cultura do estupro” — segundo as feministas — está baseada em um tripé:
profunda desigualdade de gênero, constante desumanização da mulher e
objetificação de seu corpo. E envolveria crenças e normas de comportamento
decorrentes do machismo e do patriarcalismo prevalecentes no Brasil, dos quais
resultam valores específicos que banalizam, legitimam e toleram a violência
sexual contra a mulher. Dizem que tais normas se fundamentam na ideia de que o
valor da mulher como ser humano está atrelado a uma conduta moral relacionada à
sexualidade. A simples existência de normas já caracterizaria a falta de
direito da mulher sobre o próprio corpo e suas vontades. Daí usarem em
protestos o bordão: “Meu corpo, minhas regras”.
Para as feministas, a mulher deve se libertar de toda e qualquer norma alusiva
à moralidade. E aqui começo a alertar as servas do Senhor: esse pensamento
feminista não se coaduna com a Palavra de Deus. As Escrituras têm sim um código
moral que se aplica a “todas e todos” (cf. Mt 5-7). O cristão que se preza — seja
mulher, seja homem — rejeita a imoralidade e não luta pela prevalência da sua
própria vontade, pois sabe que a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável
(Rm 12.2). Jesus não obriga ninguém a segui-lo, mas disse: “Se alguém quer vir
após mim, negue-se a si mesmo” (Lc 9.23).
A existência de normas de conduta em relação às mulheres — afirmam as
feministas — causa a sua objetificação, fazendo com que elas sejam vistas como
objetos, uma vez que as que se submetem às normas patriarcais e machistas são
tidas como mulheres “com valor”, enquanto as outras são tratadas como “sem
valor”. Entretanto, aceitem as feministas ou não, a Palavra de Deus,
especialmente o livro de Provérbios, faz clara distinção entre a mulher
adúltera e a mulher virtuosa (7.10; 12.4; 30.20; 31.10 etc.). Nesse caso, uma
irmã que abraça a tese feminista da objetificação decorrente da submissão a
normas de conduta estará se colocando contra o Deus santo, que exige de “todas
e todos” uma conduta santa, diferente do mundo (1 Pe 1.15,16; Hb 12.1-14).
Mas as feministas vão muito mais longe, ao defender esse suposto fato social.
Dizem que a mulher se tornou um objeto e também foi desumanizada. E, por isso
mesmo, é passível de estupro, assassinato etc. Em outras palavras, em razão de
ela ser obrigada — lembre-se de que o fato social é coercitivo — a submeter-se
a regras ditadas pelo patriarcado, ela não só perdeu o direito sobre o seu
próprio corpo, como é obrigada a pertencer à família, ao marido, à igreja e à
lei, e nunca a ela mesma!
Quando olhamos para a Palavra de Deus, vemos que o nosso “eu” já foi
crucificado com Cristo e devemos viver para Ele (Gl 2.20; 2 Co 5.17). Não temos
direito sobre nosso próprio corpo, mas devemos oferecê-lo a Deus como um
sacrifício vivo, santo e agradável (Rm 12.1). Quanto à família, foi o Senhor
quem a estabeleceu, definindo claramente os papéis da mulher e do homem (Ef
5.22-33). Em relação ao casamento, a Palavra de Deus diz: “A mulher não tem
poder sobre seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também, da mesma maneira,
o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher” (1 Co
7.4). Percebeu como o feminismo é perigoso, embaraçante (cf. Hb 12.1,2),
inconveniente (cf. 1 Co 6.12) e incompatível com a fé cristã?
As feministas alegam que a sociedade “machista” e “patriarcal”, baseada na
cosmovisão judaico-cristã, tem ditado à mulher regras pelas quais visa a
controlar a sua sexualidade, dando a ideia de que ela deve preservar sua
castidade para ser vista como digna de valor e respeito. Mas isso não vale
apenas para as mulheres! Cristãos que se prezam — “todas e todos” — devem ter
uma vida casta, santa, digna de valor e respeito. A santificação do Espírito
que ocorre dentro de nós deve se exteriorizar (1 Ts 5.23), a fim de que
tenhamos um bom testemunho e brilhemos como astros neste mundo tenebroso (Mt
5.13-16; Fp 2.14,15).
De acordo com o feminismo, ainda, nenhuma mulher deve se preocupar com a sua
conduta. Ela pode se vestir como quiser, em qualquer lugar, inclusive dentro
das igrejas, não podendo ser vista como vulgar ou “oferecida”. Cabe aos homens,
sempre, respeitá-la, haja o que houver. Ela tem o direito de “provocar” o homem
— cuja “máquina sexual”, como se sabe, é ativada facilmente por meio da visão
—, como ocorre nos bailes funk, em que mulheres, quase nuas, simulam, por meio
da dança, o ato sexual. E, caso ela resolva passar inteiramente nua em frente a
uma obra, rebolando, ninguém teria, em tese, o direito de “elogiá-la” ou fazer
gracejos.
Embora pareça contraditória a ideia de que são direitos da mulher tirar a roupa
onde quiser, seduzindo homens, ou até vender seu corpo, as feministas insistem
em defendê-la, pois, assim, nenhum estuprador ou assediador poderá alegar que
se sentiu “provocado”, ao cometer um crime. Evidentemente, nada justifica o
estupro, o assédio sexual e outros crimes contra a mulher. No entanto, seria
justo responsabilizar o homem, diante dos exemplos citados, de tornar a mulher
um objeto e desumanizá-la?
Lamentavelmente, já há irmãs em Cristo, cooptadas pelo feminismo, desprezando a
Palavra de Deus. Elas vão para os cultos com roupas provocantes e, caso um
homem, sentindo-se tentado, olhe para elas, correm logo para as redes sociais
ou para a “rodinha da fofoca” para dizer que fulano é um sem-vergonha. Não nos
esqueçamos — e isto é doutrina! — do que está escrito em 1 Timóteo 2.9: “Que do
mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia”.
As feministas dizem, finalmente, que é um erro classificar os estupradores como
“monstros” ou portadores de alguma patologia. Elas preferem dizer que a culpa é
da “cultura do estupro”, do “patriarcado”, do machismo, e que a solução é dar à
mulher pleno direito sobre seu corpo, o que inclui abortar quando quiser. Nesse
caso, deve uma serva de Deus ser uma militante feminista e defender o aborto?
Ora, sabemos que a vida gerada no ventre de uma mulher, ainda que esteja em seu
corpo, não é extensão dele. Ela não tem o direito de assassinar um ser humano,
que, a despeito de depender dela para sobreviver, é outra pessoa, outra vida.
Diante do exposto, é preocupante que irmãs em Cristo defendam a falaciosa e
anticristã ideia da “cultura do estupro”. Algumas, inclusive, têm se levantando
contra os pastores, em suas igrejas. Dizem que, nos tempos bíblicos, o machismo
imperava e, por isso, a Bíblia precisa ser contextualizada, para que as
mulheres não sejam mais subjugadas. Bem, se foi Deus quem entregou a Lei a
Moisés, pergunto: Seria o Senhor machista? Quanto a Jesus, considerando que Ele
veio ao mundo para quebrar paradigmas — não tendo nenhum compromisso com os
machistas — e “chamou para si os que ele quis” (Mc 3.13), por que não escolheu
seis casais ou doze mulheres, e sim doze homens? Por que o Mestre não se opôs
ao “patriarcado”? Pense nisto.
Ciro Sanches Zibordi
Autor: Ciro Sanches Zibordi
fonte:
http://cirozibordi.blogspot.com.br/2016/06/o-feminismo-e-suposta-cultura-do-estupro.html?spref=fb