segunda-feira, abril 08, 2013

A MISSÃO SOCIAL DA IGREJA






A Igreja está no mundo e tem responsabilidade social até a volta de Cristo. 


INTRODUÇÃO

- Em continuidade ao estudo da “Eclesiologia prática”, vamos estudar a “missão social da Igreja”, ou seja, os deveres e encargos que o Senhor determinou à Sua Igreja enquanto ela estiver no mundo.

- A Igreja, como vimos, é um grupo social, um conjunto de pessoas que está no meio dos homens nas sociedades e comunidades. As igrejas locais, portanto, têm, enquanto grupo social, deveres e encargos impostos pelas Escrituras no relacionamento com os seres humanos, individual e coletivamente.



I – A IGREJA LOCAL É UM GRUPO SOCIAL QUE DEVE ATUAR NA SOCIEDADE

- A igreja, na sua dimensão local, é, como visto no início do trimestre, um grupo social. “…Em Sociologia, um grupo é um sistema de relações sociais, de interações recorrentes entre pessoas. Também pode ser definido como uma coleção de várias pessoas que compartilham certas características, interajam uns com os outros, aceitem direitos e obrigações como sócios do grupo e compartilhem uma identidade comum — para haver um grupo social, é preciso que os indivíduos se percebam de alguma forma afiliados ao grupo.…”(Wikipedia. Disponível em: 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Grupo_(Sociologia) Acesso em 20 dez. 2006).

- A igreja local reúne todas as características para ser considerada um grupo social, ainda que, ultimamente, tenhamos de reconhecer que muitas delas, máxime nas grandes cidades e metrópoles deste mundo, andam perdendo a sua identidade comum, cada vez mais se parecendo uma “multidão” do que um verdadeiro grupo social, assunto, porém, que não é o que deveremos tratar nesta lição.


- Além de ser um grupo social, a igreja local foi feita por Deus para ser um grupo social que vive em meio aos demais, que não pode deles se separar, como, aliás, tivemos ocasião de estudar na lição anterior. Como “astros no meio de uma geração corrompida e perversa” (Fp.2:15), como “luz do mundo” (Mt.5:14) e como “sal da terra” (Mt.5:13), a igreja local não pode, mesmo, se apartar do convívio com os demais homens, tanto que Jesus, mesmo, disse ao Pai que não pedia que os Seus discípulos fossem tirados do mundo, mas, sim, libertos do mal (Jo.17:15).






- Ora, se a igreja local é um grupo social que deve ser mantido, por vontade de Cristo, a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23), entre os demais homens, é evidente que deve, enquanto tal, exercer uma “missão social”, ou seja, deve, enquanto grupo, exercer um papel relevante no relacionamento com as demais pessoas da sociedade onde se encontra.

- Deus não faz coisa alguma sem propósito e, portanto, o fato de a igreja ser um grupo social e de ter de travar relações com as demais pessoas e os demais grupos existentes na sociedade não seria uma coincidência, nem tampouco o resultado de uma vontade ou de uma habilidade desta ou daquela igreja local, mas uma necessidade imperiosa, um dever que se impõe a todos os que se constituem em membros em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27).


- Esta dimensão social da igreja tem sido negligenciada ao longo dos séculos e, com muito maior vigor, a partir da Reforma Protestante, movimento que, apesar de ter sido o grande responsável pela manutenção e crescimento da pureza doutrinária, com sua ênfase no caráter individual da salvação e na justificação pela fé, ao mesmo tempo em que se procurava contrapor aos excessos advindos do romanismo com relação à prática de boas obras, acabou gerando um certo menosprezo ao que se convencionou chamar de “ação social da Igreja”, que é o conjunto de atividades que buscam trazer às pessoas as condições mínimas para a sua sobrevivência e dignidade na sociedade.

- No entanto, quando verificamos que Deus criou o homem como um ser social (Gn.2:18), bem como que o pecado, embora cometido individualmente, traz severas conseqüências para a vida em sociedade (Gn.3:16; 6:5,12), a única conclusão que podemos chegar, à luz das Escrituras, é de que a igreja tem um papel a desempenhar na sociedade e que, enquanto corpo de Cristo e enquanto grupo social, não é possível admitir-se uma igreja que seja totalmente ausente da melhoria das condições de vida em sociedade.


- A mensagem do Evangelho é, em si, uma mensagem que leva o homem a ter esperança não só de uma vida eterna com Deus, já iniciada desde a salvação na pessoa de Jesus Cristo, mas também de uma vida melhor sobre a face da Terra até o dia da glorificação. O tema do Evangelho é o “reino de Deus” (Mc.1:15) e este reino envolve não só a restauração da comunhão entre Deus e o homem, mas também o estabelecimento de uma comunhão entre os homens, de uma esfera de justiça , paz e alegria no Espírito Santo (Jo.15:12; Rm.14:17; I Jo.3:14-19).


- Já em Israel, o Senhor já demonstrava a necessidade de se ter uma efetiva ação social na vida sobre a face da Terra. A lei de Moisés tinha diversos dispositivos para diminuir a desigualdade social entre os integrantes da sociedade, bem como para evitar que as camadas mais simples da população viessem, pela indigência, a sofrer além dos limites suportáveis ou, mesmo, a morrer de fome, como, por exemplo, nas regras referentes ao ano sabático (Lv.25:1-7), ao ano do jubileu (Lv.25:8-55), à respiga (Lv.19:10), ao dízimo (Nm.18:21-32; Dt.14:28,29; 26:12-15), ao salário dos trabalhadores (Lv.19:13) e ao penhor de bens essenciais à pessoa (Ex.22:26; Dt.24:6).


- Em todas estas disposições, Deus mostra, claramente, que, no meio do Seu povo, deveria haver respeito às pessoas e à sua dignidade, que os homens e mulheres estavam acima dos direitos e obrigações instituídos, ainda que legitimamente e de acordo com a lei, de modo que não se toleraria uma exploração desmedida de um homem em relação a outro, nem se poderia desamparar e deixar desprotegidos os indivíduos mais vulneráveis, identificados no texto bíblico como sendo “órfãos” e “viúvas”.






- Estas disposições, que nem sempre foram cumpridas pelo povo de Israel (basta ver, por exemplo, que o cativeiro da Babilônia durou 70 anos precisamente para que se cumprissem os anos sabáticos ignorados pelos israelitas durante a sua estada na Terra de Canaã – II Cr.26:21), persistem no tempo da dispensação da Igreja, vez que não decorrem da dispensação da lei, mas do próprio caráter divino, visto que Deus não muda e nEle não há sombra de variação (Ml.3:6; Tg.1:17).

- A Igreja, o Israel de Deus (Gl.6:16), deve seguir esta mesma linha de misericórdia e de respeito à dignidade da pessoa humana determinados por Deus ao Seu povo, visto que é participante da natureza divina, que quer que o homem, feito à Sua imagem e semelhança, tenha, na vida em sociedade, a dignidade que lhe é peculiar, que lhe foi dada por ato criativo de Deus.









II – A AÇÃO SOCIAL NO MINISTÉRIO TERRENO DE JESUS

- Muitos poderão objetar o que estamos a dizer, afirmando que o fato de a lei de Moisés ter determinado uma conduta de ação social, de atendimento aos mais vulneráveis e de proeminência do homem sobre todas as relações sociais, é apenas uma constatação do que havia no tempo da lei, quando Deus constituiu um povo étnico, biológico e físico, onde se deveria, mesmo, ter normas relativas ao convívio social. Sendo, porém, a Igreja um povo espiritual e não sendo o reino de Deus deste mundo (cfr. Jo.18:36), não haveria qualquer espaço para uma “ação social” para a Igreja, sendo pois, algo completamente alheio à tarefa da Igreja o envolvimento com este assunto que seria, quando muito, apenas um desvio espiritual, em outras palavras, uma “apostasia”.


- Não negamos que haja quem pense assim no meio das igrejas locais evangélicas, pensamento este, aliás, que é explicado historicamente, tendo em vista a preocupação, principalmente no final do século XIX e início do século XX, com a infiltração do pensamento materialista e liberal entre muitos teólogos e pastores, que deram surgimento a um movimento que ficou conhecido como “evangelismo social” ou “evangelicalismo social”, que, ao mesmo tempo em que se despertava para a necessidade de uma atuação social da Igreja, também passava a compartilhar com algumas idéias doutrinárias que acabaram desacreditando a linha social defendida.


- Entretanto, como bem assinala o pastor presbiteriano Rev. Dr. Antonio José do Nascimento Filho, em seu excelente trabalho O Papel da Ação Social na Evangelização e Missão na América Latina: uma visão contemporânea (Campinas: LPC Comunicações, 1999. 105p.), este posicionamento não corresponde à realidade das Escrituras, que, em todo o seu conjunto, mas também em o Novo Testamento, demonstram claramente que a ação social é um dever imposto à Igreja, o atual povo de Deus sobre a face da Terra.


- Todos dizemos, a começar daqueles que se dizem inimigos da “ação social”, que Jesus é o cumprimento da lei e dos profetas, e o dizemos não porque sejamos “iluminados”, mas porque foi precisamente o que disse o Senhor a respeito (Mt.5:17) e, neste ponto, o Senhor simplesmente exigiu que a justiça de Seus discípulos, ou seja, da Sua igreja, deveria exceder a dos escribas e fariseus, sendo esta uma condição “sine qua non” para a entrada no reino dos céus (Mt.5:20). Só por este motivo, já vemos que o que estava apontado como figura ou símbolo na lei de Moisés, deveria ser cumprido e efetivado, com muito maior profundidade, pelos discípulos de Cristo. É, aliás, este o tema do sermão do monte.


- Pois bem, se Jesus é o cumprimento da lei e dos profetas, ao apreciarmos o Seu ministério terreno, teremos o parâmetro a ser seguido pela Sua Igreja que, afinal de contas, é o Seu corpo. Se assim é, a questão da “ação social” se resolve por uma simples questão: Jesus Cristo fez ação social em Seu ministério terreno?

- A resposta é afirmativa. Em todos os instantes que vemos o Senhor Jesus agindo, vemos que a ação social estava presente, fazia parte do Seu ministério. Já no limiar do Seu ministério, quando estava sendo tentado pelo diabo, em resposta ao Tentador, o Senhor citou o livro de Deuteronônio: “nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que procede da boca de Deus” (Mt.4:4b).


- A frase de Cristo é muito utilizada para mostrar a importância e supremacia da Palavra de Deus, mas contém também um ensino que é, por vezes, negligenciado. Jesus, com todas as letras, diz que o homem precisa do pão material, embora sua vida não se reduza a isto. Estava, sim, a passar fome no deserto, pois havia um propósito divino para tanto (Jesus estava em jejum para poder enfrentar e vencer o diabo), mas isto não queria dizer que o homem não precisa de pão material para sobreviver. Muito pelo contrário, nas duas multiplicações de pães, Jesus mostrou a Sua preocupação com a alimentação da multidão que O ouvia (Mt.14:15,16; 15:32). Vemos, pois, que, em Seu ministério, Jesus sempre demonstrou cuidado para com a satisfação das necessidades físicas dos que O cercavam.







- Em Nazaré, cidade onde foi criado, em Sua pregação na sinagoga, depois de ter sido tentado pelo diabo, revela este lado “material” de Seu ministério terreno. Disse que havia sido ungido para evangelizar os pobres, a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos e dar vista aos cegos, a pôr liberdade os oprimidos e anunciar o ano aceitável do Senhor (Lc.4:18,19). Em todas estas atividades, embora haja um sentido espiritual evidente, não se pode, também descartar o aspecto material.


- Jesus, em muitas ocasiões, referiu-Se aos pobres e não só no sentido espiritual da palavra, ou seja, aqueles que se fazem dependentes de Deus, carentes de Deus e aceitam a Sua soberania, mas também no sentido material da expressão, pois, se assim não fosse, como entender que Jesus possuía uma bolsa para os pobres (Jo.12:6; 13:29), bem como mulheres que contribuíam financeiramente para este serviço (Lc.8:3)?


- Outra demonstração de que o ministério de Jesus também abrangia a ação social vemos no próprio comportamento dos discípulos que, nos tempos apostólicos, sempre cuidaram dos necessitados, particularmente das viúvas, como nos atestam textos como At.2:45; 6:1; II Co.9; I Tm.5:3-5. Vemos, portanto, que, se os discípulos assim procediam é porque assim havia sido o procedimento do seu Mestre e Senhor, a quem imitavam.

- O ensino de Jesus a respeito do amor ao próximo, que foi tão bem ilustrado na parábola do bom samaritano, é mais uma demonstração de que não é possível um verdadeiro e genuíno cristianismo sem uma “ação social”. Amar o próximo, como ensina nessa parábola, é superar todas as barreiras culturais e fazer o bem ao semelhante, de modo desinteressado e incondicional. Aliás, o apóstolo Pedro, ao sintetizar o ministério de Cristo, disse que Ele andava “fazendo bem” (At.10:38), a demonstrar, pois, que a “ação social” era um dos sustentáculos do ministério terreno do Senhor.


III – A AÇÃO SOCIAL E AS DOUTRINAS BÍBLICAS


- O já mencionado pastor Antonio José do Nascimento Filho é feliz ao mostrar que a ação social é uma conseqüência inevitável e indispensável de algumas doutrinas bíblicas, o que demonstra a sua necessidade no cotidiano da Igreja. Para o referido estudioso das Escrituras, a ação social é conseqüência das seguintes doutrinas bíblicas:


a) Doutrina de Deus – Ao efetuar “ação social”, a Igreja mostra aos homens que Deus é justo e misericordioso, visto que a “ação social” visa instituir a justiça e é uma demonstração da misericórdia, atributos divinos por excelência.


b) Doutrina de Cristo – Ao efetuar “ação social”, a Igreja mostra que Jesus veio para servir e não para ser servido. O Cristo, Servo do Senhor, que ama e tem compaixão de toda a humanidade é mostrado quando a Igreja pratica “ação social”.


c) Doutrina do Reino de Deus – Ao efetuar “ação social”, a Igreja, desde já, adianta o que é o Reino de Deus, torna realidade, ainda que parcial e tênue, o que está a pregar e a esperar com a vitória final sobre o mal e o pecado a ser realizada pelo seu Rei, o Senhor Jesus.


d) Doutrina do Homem – Ao efetuar “ação social”, a Igreja mostra o devido valor que Deus dá ao homem e a posição singular dada ao homem na ordem cósmica. A Igreja, ao praticar a “ação social”, realça a dignidade da pessoa humana.


e) Doutrina da Igreja – Ao efetuar “ação social”, a Igreja mostra ao mundo que é um povo especial, zeloso de boas obras, a agência do reino de Deus na Terra. Comprova, com fatos (e contra fatos, não há argumentos), que Jesus ama e veio salvar a humanidade.


- Podemos, ainda, ante a “ação social” da Igreja, vermos características de outras doutrinas bíblicas, a saber:


f) Doutrina do Espírito Santo – A “ação social” da Igreja mostra, claramente, que a Igreja tem, dentro de Si, o Espírito Santo, o Consolador, aquele que vem dar alívio e conforto aos homens.


g) Doutrina da Salvação – A “ação social” da Igreja mostra o que é a salvação em Cristo Jesus, uma salvação que não se circunscreve a partes do homem, mas ao homem integral: corpo, alma e espírito.


h) Doutrina do Pecado – A “ação social” da Igreja leva os homens a perceber a injustiça reinante na sociedade e que isto é resultado do pecado, efeito nefasto da rebelião do homem contra Deus.

- Como se verifica, pois, a “ação social” da Igreja é uma atividade que muito colabora para não só a evangelização, como também para o próprio aperfeiçoamento dos santos, pois, com estas “boas obras”, vemos claramente que os homens são levados a glorificar ao nosso Pai que está nos céus.


- É importante, neste instante, evidenciar aqui uma distinção que costuma ser feita entre “serviço social” e “ação social”, distinção esta que, aliás, consta do material produzido pelo Setor de Educação Cristã da CPAD no apoio aos mestres nas Lições Bíblicas. Até aqui temos tratado “ação social” num sentido genérico, tal qual o definimos supra, ou seja, como o conjunto de atividades que buscam trazer às pessoas as condições mínimas para a sua sobrevivência e dignidade na sociedade. No entanto, conforme acentuou o material já aludido, há uma distinção entre “serviço social” e “ação social”. O “serviço social” é identificado com o conjunto de atividades que têm, por finalidade, a satisfação imediata de carências surgidas num determinado grupo de pessoas, uma ação de caráter “curativo”, um remédio para uma necessidade surgida. Já a “ação social” é identificada como um conjunto de atividades que visa não a satisfação de uma necessidade, mas a eliminação da causa desta necessidade, que tem em vista a modificação do quadro existente, a alteração da própria sociedade, tornando-a mais justa.


III – O AMOR AO PRÓXIMO E O AMOR FRATERNAL COMO CONDIÇÃO PARA A AÇÃO SOCIAL DA IGREJA


- Já dissemos que uma das demonstrações de que a “ação social” da Igreja é uma necessidade é que é ele a demonstração do próprio “amor ao próximo”, que Jesus considerou como sendo um dos dois mandamentos a que se resumia a lei e os profetas (Mt.22:39,40).


- Sendo o amor uma característica indispensável para quem diz ser filho de Deus, é como se fosse o próprio DNA espiritual do cristão sincero e verdadeiro, devemos observar que este amor não é apenas a essência da comunhão entre Deus e o homem, o próprio núcleo da vida espiritual, mas é, como afirma Paulo, o primeiro “gomo” do fruto do Espírito (Gl.5:22), ou seja, necessariamente este amor tem de se traduzir em atitudes, em ações, tem de se manifestar fora do indivíduo.


OBS: “…Ao descobrir-se amado por Deus, o homem compreende a própria dignidade transcendente, aprende a não se contentar de si e a encontrar o outro, em uma rede de relações cada vez mais autenticamente humanas. Feitos novos pelo amor de Deus, os homens são capacitados a transformar as regras e a qualidade das relações, inclusive as estruturas sociais; são pessoas capazes de levar a paz onde há conflitos, de construir e cultivar relações fraternas onde há ódio, de buscar a justiça onde prevalece a exploração do homem pelo homem. Somente o amor é capaz de transformar de modo radical as relações que os seres humanos têm entre si.…” (PONTÍFICIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da doutrina social da Igreja, n. 4)


- Não foi por outra razão que Deus, ao entregar a Moisés a lei, estabeleceu que o resumo de todos os mandamentos fosse “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder.”(Dt.6:5). Só assim poderia haver a guarda de todos os mandamentos e, por conseguinte, temor a Deus e vida (cfr. Dt.6:1,2), mandamento que foi endossado por Cristo, quando indagado a respeito do que era mais importante na lei (Mt.22:37).


OBS: É interessante notar que a declaração de Dt.6:5 vem imediatamente após a declaração de Dt.6:4, conhecida entre os judeus como a “Shemá”, a profissão de fé israelita. O mestre judeu Baal Hatorim (1270-1350) sugere que esta profissão de fé significa testemunho e que, cada um dos judeus, quando recita a “Shemá” (que, no ritual judaico, deve ser pronunciada por todo judeu pela manhã e pela noite), testemunha a divindade de Deus e aceita o jugo do Seu reino. Ora, se assim considerarmos, vemos, claramente, que o amor é a demonstração concreta do testemunho de um servo de Deus.


- Assim na lei de Moisés, apesar de todo o seu rigor, está bem especificado que o fundamento, a essência do relacionamento de Deus com o homem é o amor e que este amor não se limitava tão somente ao interior do homem que aceita Cristo, mas que se espraia aos semelhantes, tanto que Jesus fez questão de complementar a inquirição do doutor da lei com uma afirmação extremamente relevante: “e o segundo, semelhante a este, é: amarás o próximo como a ti mesmo.” (Mt.22:39).


- Deste modo, vemos que o amor divino, quando passa a existir no ser humano, o que somente é possível mediante a salvação, gera uma fonte de água que jorra para a vida eterna (Jo.4:14). Se é fonte de água que jorra, é água em movimento; se é água em movimento, é água que atinge outros lugares; se é água que atinge outros lugares, é água que leva a vida eterna até estes outros lugares. O homem salvo possui amor que se manifesta:


a) em direção a Deus – dimensão vertical

b) em direção aos outros homens – dimensão horizontal

c) em direção a si mesmo – dimensão interior 

- O apóstolo Paulo, ao escrever para os crentes de Tessalônica, vai tratar, precisamente, desta “dimensão horizontal”, ou seja, do amor em direção aos outros homens, do que, na Versão Almeida Revista e Corrigida, é chamado de “caridade fraternal”, que, em outras versões, é denominado de “amor fraternal” e que corresponde à palavra grega “philadelphia”, que é uma palavra composta de “philia”, o amor amizade de que já tratamos supra e “adelphos”, que significa “irmão” e que se constitui, precisamente, no fator que leva a Igreja a efetuar uma “ação social”. 

- O amor a Deus é pressuposto para que se tenha amor ao próximo. Não é possível amar o próximo sem que antes se ame a Deus. Daí porque não podermos confundir o amor ao próximo com o mero exercício de filantropia, com dó ou qualquer outro sentimento que tenha em vista a ajuda circunstancial a outrem, como, aliás, defendem aqueles que acham que as boas obras de alguém ocasionam a este alguém algum progresso espiritual.


- Quem ama a Deus, ama o próximo, mas quem não ama a Deus, não ama o próximo. É mentira a afirmação de alguém que diz que está evoluindo espiritualmente pelo simples fato de ajudar os necessitados com esmolas ou com trabalho voluntário. Estas atitudes de benemerência não significam amor ao próximo, pois o verdadeiro amor ao próximo é decorrência do amor a Deus e, portanto, é resultado da obediência à Palavra de Deus.


- Mas, do mesmo modo que estão errados aqueles que acham que as boas obras são suficientes para salvação, também estão enganados aqueles que vêem numa vida religiosa devocional a salvação. A Bíblia é claríssima: quem ama a Deus, ame a seu irmão e que quem aborrece a seu irmão e diz que ama a Deus é mentiroso e, portanto, alguém que não é filho de Deus, tanto que não morará eternamente com o Senhor na cidade santa, mas ficará do lado de fora pela sua mentira (Ap.21:8; 22:5). 


- Amar o próximo não é dizer a alguém que o ama, mas um amor que se mostra por atitudes concretas, por ações efetivas, por obras. Amor ao próximo não é amor de palavra nem de língua, mas amor por obras e em verdade (I Jo.3:18).


- Amar o próximo é sentir compaixão por ele, ou seja, sentir a sua dor, como se fosse nossa e, assim, suprir as necessidades imediatas do nosso semelhante, lembrando que ele é tão imagem e semelhança de Deus quanto nós. O próximo é qualquer ser humano, como bem nos explicitou Jesus na parábola do bom samaritano, e este amor supera todo e qualquer preconceito, toda e qualquer barreira, toda e qualquer tradição.


- Amar o próximo não é apenas ajudar alguém do ponto-de-vista material, mas, sobretudo, levar este alguém a uma vida de comunhão com Deus, a um equilíbrio em todos os aspectos da sua vida. Medidas emergenciais serão necessárias, como nos mostra a parábola do bom samaritano, mas é extremamente necessário que levemos o próximo a entender que deve, sobretudo, amar a Deus, para que também ame o próximo, como nós o amamos.


- O amor ao próximo é determinado pelo Senhor, é Seu mandamento (Jo.15:12) e tem como exemplo o próprio amor que Cristo apresentou a nós, ou seja, o da completa renúncia para que desfrutássemos da vida eterna. Devemos assim amar os nossos irmãos: estarmos dispostos, inclusive, a dar nossa vida pelos irmãos, desde que isto os leve a uma vida de comunhão com Deus.


- Jesus nos amou primeiro, fez o que não podíamos fazer, mas nem por isso fez o que poderíamos e deveríamos fazer. Este é o limite do amor ao próximo: fazer aquilo que ele não pode fazer, mas ensinar-lhe a fazer o que pode e deve fazer.


- Quando amamos o próximo da forma determinada na Palavra de Deus, melhoramos sensivelmente o ambiente em que vivemos. O período áureo da história da humanidade, que será o reino milenial de Cristo, será caracterizado por este amor, teremos, enfim, a “civilização do amor”, que tanto almejamos e que tão distante está da nossa realidade atual.


- Esta civilização do amor já está delineada nos dez mandamentos dados a Moisés, onde Deus revela o Seu caráter ao povo que escolhera. Com efeito, ao observarmos os mandamentos, veremos que quatro deles dizem respeito ao relacionamento entre Deus e Israel (dimensão vertical: não terás outros deuses diante de mim, não farás imagem de escultura, não usarás o nome do Senhor em vão, guardarás o sábado), um é híbrido, pois diz respeito ao relacionamento entre Deus e Israel e entre os homens entre si (honrar pai e mãe para que o Senhor prolongue a vida) e cinco são inteiramente voltados para o relacionamento entre as pessoas (não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho contra o teu próximo e não cobiçarás). Aqui, uma vez mais, vemos que a fonte de um bom relacionamento com o próximo é o bom relacionamento com Deus, mas também vemos como é extremamente indispensável que haja atitudes concretas para mostrar este amor ao próximo.


OBS: “…Atribuindo o fundamento destas leis à responsabilidade do homem diante de Deus, e não tão somente diante da sua consciência, Moisés pôde assegurar o seu cumprimento total em todas as circunstâncias e em todas as épocas. A transgressão de um mandamento da Torá não é apenas um crime contra a consciência ou o Estado, mas também um pecado religioso contra Deus, e se uma pessoa cumpre realmente os cinco primeiros mandamentos, dificilmente poderá transgredir os cinco últimos.…” (Meir Matzliah MELAMED. A Lei de Moisés: Torá, com.Ex.20:1, p.215).


- Este amor ao próximo, esta “caridade fraternal” ou “amor fraternal”, era uma característica dos crentes de Tessalônica, a tal ponto que o apóstolo chega mesmo a dizer que a respeito dela não precisaria escrever, vez que se tratava de uma qualidade presente no cotidiano da igreja dos tessalonicenses, como se lê em I Ts.4:9.

- Já vimos que, sem a presença do amor divino, não é possível falarmos em amor ao próximo, em uma verdadeira “fraternidade”, esta palavra que, apesar de estar presente em muitos documentos e eloqüentes discursos (a começar do famoso lema da Revolução Francesa: “liberdade, igualdade e fraternidade”), é uma prática cada vez mais rara no mundo em que vivemos, precisamente porque este mundo está imerso no pecado e no mal, o que impede que o amor de Deus possa dominar os corações e, assim, trazer a verdadeira fraternidade aos homens.


- Em Tessalônica, porém, a fraternidade era uma qualidade presente, que fazia parte do dia-a-dia dos crentes. É importante, desde logo, verificar que, em termos de amor, pouco importa o que é dito ou ensinado, sendo muito mais importante o que é feito, o que é praticado. Amor não é matéria que se observe por teoria, por palavras, mas por atitudes, por gestos concretos (I Jo.3:18).


- Fraternidade é, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “laço de parentesco entre irmãos, irmandade”; “união, afeto de irmão para irmão”; “o amor ao próximo, fraternização”; “a harmonia e união entre aqueles que vivem em proximidade ou que lutam pela mesma causa etc.”. Por estas definições do lexicógrafo (aquele que escreve dicionários), podemos observar o que havia na igreja em Tessalônica e a respeito do que o apóstolo não precisava mais escrever.


- Em primeiro lugar, fraternidade é o “laço de parentesco entre irmãos, irmandade”. Este significado primeiro da palavra fraternidade leva-nos não só ao aspecto biológico, mas também ao prisma espiritual. Como reconhecem os estudiosos de religião, foram os cristãos os primeiros a afirmar categoricamente que todos os homens eram irmãos uns dos outros, não só biologicamente (pois todos tiveram o mesmo pai biológico – At.17:26), mas por dever todos se amar uns aos outros. Como diz Rodney Stark, “… o uso do ‘irmãos em Cristo’, proferido mutuamente por nobres e escravos, homens e mulheres, não era mera retórica. Desses costumes nasceram a solidariedade e a noção de assistência social (além de um embrião de democracia popular), que hoje é tão cara ao mundo civilizado. Foram os cristãos — ainda na condição de proscritos — os fundadores dos primeiros hospitais e asilos.…” ( Isabela BOSCOV. As faces de Jesus. Veja, ano 35, n. 51, edição 1783, 25.12.2002, p.95).


- Verdade é que esta idéia de uma irmandade entre todos os homens já existia, de certo modo, entre os judeus, o que não é surpreendente, visto que Deus não muda e Sua revelação a Israel não poderia contradizer a Sua revelação por meio de Seu Filho. Assim é que, já entre os judeus, vemos a idéia de que uma das características do homem maligno é, precisamente, a ausência de espírito fraterno. Caim é o protótipo do homem sem Deus e revela toda a sua malignidade quando se dirige a Deus e diz: “sou eu, guardador do meu irmão?” (Gn.4:9 “in fine”). No entanto, cedo esta idéia centrou-se na própria nação judaica, a ponto de se dizer que “todos em Israel são companheiros”. Nos tempos de Jesus, mesmo, a inimizade existente entre os judeus e os samaritanos são o exemplo vivo de como o preceito divino havia se circunscrito apenas aos nacionais de Israel.


- Entretanto, na Igreja, no conjunto das pessoas salvas, todos são conscientes de que somos irmãos uns dos outros, de que temos uma mesma origem biológica e que Deus não faz, por isso, acepção de pessoas. É fundamental que tenhamos esta consciência, pois só deste modo poderemos desenvolver as ações que nos são exigidas pelas Escrituras Sagradas, como a humildade, o perdão e a misericórdia. Se reconhecemos que somos irmãos uns dos outros, que ninguém é melhor do que ninguém, certamente nos conduziremos de forma agradável a Deus nos nossos relacionamentos.


- Com relação, então, aos outros crentes, que não só são nossos irmãos biológicos, mas, também, assim como nós, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo (Rm.8:17), então nem se fale. Quando vemos, em cada salvo, um dos pequeninos do Senhor (Mt.25:40,45), certamente nossas atitudes serão muito diversas daquelas que são feitas pelos que não conhecem a Deus. A fraternidade é o laço de parentesco que une irmãos e somente poderemos agir fraternalmente se tivermos consciência de que cada um dos salvos custou o mesmo preço do sangue de Cristo e que, portanto, é uma jóia preciosa do tesouro de Deus.


- Vivemos dias em que as pessoas se deixam iludir pela posição, pelas finanças e que, por causa disto, agem com discriminação na própria igreja local, algo que já existia nos tempos apostólicos, como nos dá notícia o apóstolo Tiago em sua carta (Tg.2:1-13). No entanto, destas coisas Deus não Se agrada e devemos evitá-las a todo custo e o primeiro ponto para agirmos consoante os mandamentos divinos é o de nos lembrarmos que todos somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, que somos irmãos.


- A igreja de Tessalônica era uma igreja dotada de grande diversidade. Tinha membros da elite e das classes mais baixas, judeus e gentios, homens e mulheres, mas isto não os impediu de terem, entre si, a fraternidade, de se reconhecerem como irmãos, de se tratarem sem discriminação. Que exemplo maravilhoso para os nossos dias! Muitos procuram justificar as coisas estranhas que têm ocorrido nas igrejas locais com o “crescimento da obra de Deus”. Com o crescimento, argumentam estes, é preciso tratar com distinção os segmentos nobres da sociedade que estão se convertendo e, assim, deixam de lado os pobres, os “irmãozinhos”, o “povinho”, que até pouco tempo era o que se tinha como igreja local. No entanto, o exemplo dos crentes de Tessalônica mostra-nos que as coisas não são como dizem. Aquela igreja tinha pessoas da elite, mas não havia diferença de tratamento entre eles, pelo contrário, o apóstolo os elogiava porque tinham “caridade fraternal”.


- Mas parentesco também nos fala em mesma herança. Com efeito, a característica maior dos parentes é terem a mesma origem. Os irmãos não são idênticos, nem mesmo os gêmeos, como nos dão conta Esaú e Jacó. Entretanto, têm todos o mesmo patrimônio genético (o mesmo DNA), os mesmos direitos, a mesma tradição, os mesmos antepassados. Isto nos revela que os crentes, embora não sejam idênticos, têm uma mesma origem, têm algo que os une, que os mantêm em unidade. É por isso que não devemos confundir, em termos de igreja, uniformidade com unidade. A unidade é essencial. Todos os crentes são chamados para serem um em Cristo, assim como Cristo e o Pai são um (Jo.17:21). Entretanto, nós somos irmãos uns dos outros, ou seja, temos nossas próprias características, que nos distinguem uns dos outros (Gn.25:24-28). Por isso, não podemos exigir que todos sejam iguais a nós, nem que o nosso modo de ser seja imposto aos demais. A fraternidade reconhece o nosso parentesco e, por isso mesmo, acolhe e administra as diferenças (Rm.14).


- Em segundo lugar, fraternidade é “a união, o afeto de irmão para irmão”. Não basta sabermos que somos parentes, que temos uma mesma origem biológica e espiritual, mas é indispensável que tenhamos união, que tenhamos afeto entre nós. O salmista já dizia que a união é um pressuposto para que o Senhor ordene a vida e a bênção para sempre no meio do Seu povo (Sl.133).


- Os crentes em Tessalônica eram unidos, apesar de todos os fatores humanos que contribuíam para que isto não se desse. Aqueles crentes tinham tradições culturais diferentes, viviam em classes sociais diferentes e seu cotidiano era diferente, já que pertenciam a camadas distintas da sociedade, mas isto tudo não os impediu de serem unidos, de terem afeto não somente entre si, mas também em relação aos crentes de toda a Macedônia, como testemunha o apóstolo Paulo.


- Os dias eram de perseguição e, quando há perseguição, tem-no mostrado a história da igreja, o Senhor faz notório o amor fraternal entre os crentes. Conta-se que, na Nicarágua, no auge do governo sandinista (o período anterior, não o atual), diante das restrições que os crentes sofreram para cultuar a Deus, as denominações daquele país, que, antes da mudança de governo, envolviam-se em querelas e em atitudes sectárias, acabaram se reunindo em locais nem sempre de uso permitido pelo governo para juntas cultuarem a Deus, deixando de lado as “diferenças” antes tão propaladas. Assim, muitas vezes, Deus age para que deixemos de lado aquilo que tem impedido o crescimento da “caridade fraternal”.


- A fraternidade exige que os irmãos em Cristo se mostrem unidos e demonstrem afeto uns para com os outros. A fraternidade não é mera retórica, não são bonitas palavras que se pregam ou se exclamam, no sentido de que se deve ajudar o necessitado, dar emprego ao desempregado, comida ao faminto ou remédio a quem está doente. É, antes de tudo, arregaçar as mangas e providenciar meios para que estas necessidades sejam supridas.


- Em Tessalônica, principalmente depois que se iniciou a perseguição promovida pelos judeus e que incitavam as autoridades romanas, não devem ter sido poucos os problemas vividos pelos crentes. Não só eles, mas também os crentes das outras cidades macedônias (em especial, Filipos e Beréia) passaram a ser igualmente perseguidos, mas os crentes de Tessalônica não só se ajudaram mutuamente como também estenderam a sua mão auxiliadora para as demais cidades da província, o que foi exaltado pelo apóstolo.


- O que temos feito para ajudar os irmãos de nossa igreja local? Nos nossos dias, em que as igrejas mais se parecem ajuntamentos, em que diminui a cada instante a distinção entre a platéia de um evento e a assistência de uma igreja, será que teríamos, em nossa igreja local, o mesmo elogio que Paulo deu aos tessalonicenses, apesar de vivermos no Brasil um ambiente de liberdade religiosa? “…Disse Philip Yancey: ‘ Se nossas igrejas pudessem comunicar graça num mundo de competição […] elas se tornariam lugares em que as pessoas se ajuntariam com prazer; não por coerção, mas como nômades do deserto em volta de um oásis. Entristeço-me ao ver igrejas locais que funcionavam mais como empresas ou instituições financeiras do que como numa família.’…” (Agrício do VALE. Será o protestantismo terá futuro? Defesa da fé, ano 10, n.76, p.54).


- A maldade do mundo tem esfriado o relacionamento entre as pessoas. Não só nas grandes cidades, mas em um número cada vez maior de lugares, as pessoas têm se isolado umas das outras, não sendo raro o caso de pessoas que vivem há anos no mesmo local e não conhecem sequer as pessoas que habitam na mesma rua, na mesma quadra, no mesmo andar. Esta frieza contaminou, também, o ambiente das igrejas locais e não se sente mais o afeto, a união entre os integrantes de uma determinada comunidade. O sucesso da chamada “visão celular”, aliás, deve ser tributado muito a isto, pois as pessoas, sentindo-se solitárias e desamparadas nas igrejas locais, acolhem com entusiasmo a idéia de serem integrantes de um grupo menor, a “célula”, onde se tem um ambiente propício à afetividade, ao desenvolvimento da afeição entre os irmãos.


- O ambiente da igreja local não pode ser, em absoluto, despido desta união, deste afeto de irmão para irmão. Somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo e, por isso, temos de nos ajudar uns aos outros, de suprir um ao outro as necessidades, sejam elas espirituais ou materiais. Há muitos que se encontram solitários e totalmente desamparados nas multidões dos ajuntamentos das igrejas locais e isto é totalmente contrário ao modelo bíblico de igreja local, onde “…todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum, e vendiam suas propriedades e fazendas, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister e, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração.” (At.2:44-46).


- Lamentavelmente, verificamos que muitas organizações humanas têm superado em muito o ambiente de afetividade das igrejas locais, alguma até são conhecidas como “fraternidades”, precisamente porque há uma união e um espírito de cooperação e colaboração entre seus integrantes tão forte que a sociedade preferiu nomear-lhes desta maneira para identificar este companheirismo entre eles, enquanto que as igrejas locais, no mais das vezes, são conhecidas exatamente pelo oposto, pela divisão e desunião reinantes entre seus integrantes.


- Os nossos dias são difíceis, dias muito corridos, onde a luta pela sobrevivência muitas vezes prejudica até mesmo o contacto com os nossos familiares, mas, como cristãos, não podemos nos deixar levar pelo curso deste mundo. Temos de nos dedicar à nossa família e desenvolver relacionamentos construtivos com os nossos irmãos, com os integrantes de nossa igreja local. Precisamos nos pôr à disposição do Senhor para sermos companheiros uns dos outros, para que tenhamos condição de, juntos, termos êxito na nossa caminhada para o céu. Se o Senhor formou a igreja, que é a “reunião dos chamados para fora”, não o fez sem propósito. Se somos reunidos na igreja é porque necessitamos uns dos outros na nossa caminhada para o céu.


OBS: “…Estima-se que haja hoje, apenas no Brasil, entre 30 e 40 milhões de pessoas que um dia freqüentaram alguma igreja evangélica. Uma igreja de dez anos que manteve média de duzentos membros viu passar por seu rol o dobro desse número, isto é, quatrocentas pessoas que passaram por essa igreja estão afastadas hoje. No Brasil, a porcentagem de afastados que retorna à igreja não passa de 10%. Entre 60 e 70% dos afastados não receberam quaisquer visitas de líderes ou membros quando decidiram sair da igreja. Entre 40 e 30% receberam de uma a três visitas, que se revelaram, na maioria das vezes, de cobrança ou condenação. Hospícios e presídios são os lugares de destino de boa parte dos afastados. De cada dez andarilhos, três freqüentaram uma igreja evangélica um dia.…” (Agrício do VALE. op. cit., p.55). Este quadro aterrador é resultado direto da falta de fraternidade em nossas igrejas locais.


- Em Tessalônica, se os dias não eram tão corridos como os de hoje, também não havia as facilidades tecnológicas que temos hoje e, por causa disto, o tempo daqueles crentes era também tomado com tarefas que hoje nos são corriqueiras e rápidas. A perseguição, ademais, criou imensas dificuldades, mas isto não impediu que aqueles homens e mulheres se ajudassem e ajudassem aos crentes de outras cidades da Macedônia. Assim eram os crentes dos primeiros dias apostólicos, assim eram os crentes abençoados por Deus conforme está registrado nas Escrituras, ou seja, assim devemos ser nós.


- Em terceiro lugar, fraternidade é “o amor ao próximo, a fraternização”, dimensão horizontal do amor divino recebido pelo crente da qual já falamos supra. Basta apenas lembrarmos que, ao lado do amor a Deus, Jesus considerou que nisto se resumia toda a doutrina cristã e Seu mandamento aos discípulos, nas Suas últimas instruções, é que amássemos uns aos outros assim como Ele havia nos amado. Não se tratava de um conselho, mas de um mandamento, de uma ordem. Quando não amamos o próximo, desobedecemos a Jesus e selamos nosso destino eterno para fora da cidade santa.


- Em quarto lugar, fraternidade é “a harmonia e união entre aqueles que vivem em proximidade ou que lutam pela mesma causa”. A fraternidade revela-se como harmonia, ou seja, como uma situação de equilíbrio de forças, como um ambiente de paz entre pessoas que são próximas, que lutam pela mesma causa. A Igreja é um povo que luta pela mesma causa: a salvação das almas. O papel da Igreja é prosseguir o ministério de Jesus Cristo, ou seja, pregar o evangelho para salvar o que se havia perdido. A Igreja tem uma luta a favor do homem e contra as hostes espirituais da maldade, contra as portas do inferno. Por causa disto, os crentes demonstram fraternidade, “caridade fraternal”, porque estão do mesmo lado nesta luta contra o mal, porque compartilham os mesmos objetivos, propósitos e esperanças.


- A proximidade e a mesma perspectiva fazem com que os crentes se amem uns aos outros. Se não somos próximos, se não estamos uns perto dos outros, não há como se desenvolver um ambiente fraterno. Esta proximidade não é a proximidade física, como, aliás, tem sido confundido no meio evangélico, onde, cada vez mais, pregadores (que mais parecem “animadores de auditório”) apelam para as manifestações afetivas físicas em meio a seus sermões, pedindo aos ouvintes que dirijam palavras entre si, apertem as mãos, abracem-se e outras atitudes quetais. Isto é apenas uma demonstração de quão distantes estamos do modelo bíblico da afetividade. Muitos ficam emocionados só de receberem um abraço de quem está a seu lado que, aliás, só o fez porque o pregador o pediu. 


- A proximidade não se obtém desta maneira, mas, bem ao contrário, tornamo-nos uns mais próximos dos outros na medida em que todos nos aproximamos mais de Deus. ‘Chegai-vos a Deus que Ele Se chegará a vós”(Tg.4:8a), dizia o apóstolo Tiago, que era o pastor da igreja em Jerusalém. “Mas, para mim, bom é aproximar-me de Deus” (Sl.73:28a), dizia o salmista Asafe. Quanto mais próximos estivermos de Deus, mais próximos estaremos também dos Seus filhos.


- Entretanto, embora seja necessária a aproximação a Deus, isto não basta. Em Jerusalém, a Bíblia nos afirma que os que creram em Cristo no dia de Pentecoste se agregaram, ou seja, se reuniram em um grupo social e ali, naquele grupo, perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Esta busca a Deus deve ser feita de forma comunitária, além do modo individual, o que fará nascer o afeto, a harmonia e a luta pela mesma causa. Quando passamos a participar ativamente de uma igreja local, conforme a vocação que temos, o Senhor, certamente, nos fará Seu instrumento para ajudarmos os demais irmãos e sermos ajudados por eles. Não podemos nos isolar, pois quem assim o faz se acha superior aos demais. Não podemos, também, querer brilhar e galgar posições de destaque. Devemos apenas ocupar a posição que nos foi dada pelo Senhor e ajudar os irmãos a todo instante. Os escoteiros têm o compromisso de fazer pelo menos uma boa ação no dia e se esforçam para cumprir este seu dever. E nós, como filhos de Deus, temos tido esta mesma disposição?


- Estamos envolvidos em nossos projetos pessoais e de nossa família. Tudo fazemos para termos uma melhor situação econômico-financeira, para angariarmos uma posição social melhor, para darmos melhores condições a nossos filhos. Tudo isto é muito bom e necessário, mas não devemos esquecer de buscar primeiramente o reino de Deus e a sua justiça e de, nesta busca do reino de Deus, lembrar que somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo e que devemos, assim, ser instrumentos do Senhor para a salvação das almas e para o aperfeiçoamento dos santos. A fraternidade é absolutamente necessária para que cumpramos este propósito divino para nossas vidas e nada pode nos impedir de cumprir este desiderato.


- Quando vemos o apóstolo dizendo que nada o poderia separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Rm.8:35-39), devemos observar que, se nada daquilo o separava do amor de Deus, nada daquilo poderia também impedi-lo de fazer bem ao próximo, pois, como já foi dito, quem tem o amor de Deus e dele não se separa, ama o próximo e amor não é por palavras, mas por obras. Desta maneira, nada nos pode impedir de fazer bem ao próximo, de agir fraternalmente. Mas, será que é isto que temos dito aos nossos irmãos? Não temos nos justificado pela falta de tempo, pelas tribulações, pelas angústias etc. para deixarmos de fazer algo para o próximo? 


- Os crentes de Tessalônica, apesar das perseguições e tribulações, não só conseguiam se ajudar uns aos outros, como ainda estender a sua ajuda para as outras comunidades cristãs da Macedônia. O apóstolo, preocupado em dar-lhes auxílio, estava feliz ao saber que os que ele pensava precisarem ser ajudados, estavam ajudando. Que maravilha, que exemplo de igreja local!


- Mas quando dizemos que a fraternidade é harmonia, também verificamos que um dos fatores pelos quais se desenvolve um ambiente de intrigas, de dissensões e de divisões na igreja local é pelo fato de não haver “caridade fraternal”. A primeira dissensão de que se tem conhecimento na igreja cristã deveu-se da falta de fraternidade para com as viúvas da igreja que eram judias da diáspora (as “viúvas gregas”), como se observa de At.6:1. Aliás, “…a maioria dos desviados (acima de 50%) é afetada pelo ressentimento com sua liderança.…” (Agrício do VALE. op.cit., p.55).


- Em Pv. 10:12, é dito que o amor cobre todas as transgressões, em contraponto ao ódio que excita contendas. O amor de que fala o proverbista aqui é o mesmo amor de que trata o apóstolo Paulo, é o “amor fraternal”(“philia” na Septuaginta). Somente a fraternidade tem condição de gerar harmonia, gerar paz entre os irmãos. Não havendo este amor, inevitavelmente surgirão as contendas, os atritos, mesmo no seio da igreja local. Não é por outro motivo que a fraternidade é vivamente recomendada aos irmãos por Pedro, com citação do proverbista (I Pe.4:8).


IV - O NECESSÁRIO RESGATE DA AÇÃO SOCIAL


- Diante do que vimos até aqui, temos já esclarecido porque a ação social nas nossas igrejas locais deixa muito, mas muito mesmo a desejar. Vivemos um nítido processo de transformação de nossas igrejas locais em meras “multidões”, aglomerações de consumidores, cada vez mais interessados em si mesmos, em ter um “lenitivo espiritual” para o seu vazio espiritual, o que, não raro, leva estas pessoas a procurarem “doutores conforme as suas próprias concupiscências” (II Tm.4:3,4).


- Se a igreja local se desmonta como grupo social, tem se tornado um pouco mais distante o ideal de ser um grupo social relevante, cuja ação no meio da sociedade leve as pessoas, salvas ou não, a terem uma vida melhor, melhores condições de vida, a ter respeitada a sua dignidade como pessoa humana.


- Verdade é que sabemos que as Escrituras anunciam que, ao findar desta dispensação, sobrevirá um tempo particularmente difícil para a humanidade, onde a ditadura do Anticristo imporá uma desigualdade social cada vez mais intensa, desigualdade esta que já se evidencia como estão a mostrar, ano após ano, as estatísticas das Nações Unidas e outras organizações internacionais. 

- No entanto, nós, enquanto servos do Senhor, não podemos esmorecer, até porque, quem pôs a sua mão ao arado e é apto para o Reino de Deus, pode voltar atrás (Lc.9:62). A situação é cada vez mais difícil, dentro das próprias igrejas locais vemos perder-se a própria qualidade de grupo social na membresia, mas isto não pode servir de motivo ou razão para esmorecermos.


- Devemos continuar a ajudar os necessitados, a começar pelos domésticos da fé (Gl.6:10), em especial, nós, brasileiros, que vivemos no 10º país mais desigual do mundo, conforme estatística das Nações Unidas no final de 2006. É momento de não só termos uma assistência social eficaz (que deve ir muito além do “quilo” nas ceias do Senhor), como também nos engajarmos em movimentos pela melhoria das condições de vida de nossa população, seja através da alimentação, seja através dos cuidados com crianças e adolescentes, seja através de iniciativas que minorem o desemprego crônico de nosso país (o IBGE apontou taxa de desocupação de 68% entre jovens de 18 a 24 anos, no final de 2006, residindo aí a mão-de-obra barata e abundante do crime organizado), seja através do atendimento dos idosos, cada vez mais numerosos e mais necessitados na atualidade.


- A Igreja deve ter a iniciativa de conscientizar os segmentos sociais a privilegiar o trabalho como fonte de subsistência do homem, como determinado pelo Senhor, e não a especulação financeira, a criminalidade e a exploração da população economicamente ativa para criação de mecanismos de dependência eterna aos menos favorecidos por meio de esmolas estatais, que não são mecanismos que podem ser tornados permanentes, sob pena de estagnação do país. A Igreja deve lutar pelo pão que é necessário a todo homem, mas também para que ele seja obtido com dignidade e mediante os meios estabelecidos pelo Senhor em Sua Palavra.


- Para tanto, porém, como dissemos supra, é mister que a Igreja dê o exemplo, que tenha, a partir de sua membresia, ações efetivas que mostrem ao mundo que somos diferentes e que cremos num Deus poderoso, justo e misericordioso. Enquanto nós mesmos nos mantivermos alheios ao sofrimento do irmão, egoístas e sem compaixão, seremos totalmente impotentes com relação ao lamentável estado de coisas que vive a nossa sociedade e, pior do que isto, cúmplices e envolvidos em toda a sorte de desatinos, desvios e corrupções, como, lamentavelmente, têm ocorrido em escândalos cada vez mais freqüentes no nosso meio.


- A ação social da Igreja deve ser vista como um “importante negócio” (At.6:3), pois é assim que as Escrituras nos dizem ser tal atividade da Igreja. Trata-se de uma tarefa tão importante que os apóstolos criaram até uma função específica para dela cuidar, qual seja, a de “diácono” (At.6:3,5,6), palavra que, em grego, significa “servidor”, vez que deveriam eles servir às mesas, ou seja, cuidar da assistência aos necessitados.


- Vemos, pois, como o diaconato tem se desviado de seus propósitos bíblicos. Hoje em dia, o diaconato nada mais é que um “passo inicial” do ministério, nada mais é que uma atividade ritual de portaria, de recolhimento e contabilidade de contribuições e de serviço do pão e do vinho na ceia do Senhor, atividades que podem, sim, ser exercidas pelos diáconos, mas que não se constitui, em absoluto, no papel do diaconato. Urge voltarmos ao modelo bíblico, com diáconos que administrem a ação social da Igreja, que cuidem da parte material e espiritual desta assistência, que é um “importante negócio”, que deve ser dirigido pelo Espírito Santo através de homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria. A total ausência do diaconato, quase sempre numeroso nas igrejas locais, neste assunto é uma demonstração clara e inequívoca de quanto temos negligenciado a missão social da Igreja.


- É verdade que a ação social das Assembléias de Deus é pífia, diante do tamanho dela em nosso país. Nem falemos dos católicos romanos, que aqui chegaram juntamente com os portugueses no século XVI e que, “pelo tempo e privilégios que têm no Brasil, tinham mesmo que ter, pelo menos, uma boa infra-estrutura de assistência social” ou, quem sabe, dos espíritas, que, “afinal de contas, existem há, praticamente, 100 anos em nosso país e são, particularmente, majoritários nas classes abastadas de nossa nação”. Não, para que não tenhamos estas justificativas, olhemos para as denominações neopentecostais, que não têm, ainda, 25 anos de vida, mas cujas obras sociais são muito maiores do que as nossas. Dirão alguns, “mas, também, com o mercenarismo que as caracteriza, têm capital suficiente para isto”. Mas, em resposta, diremos que, embora concordemos que elas sejam mercenárias, muitas vezes, não é interessante que, com toda esta suposta ganância, tenham conseguido investir muito mais do que nós em obras assistenciais? Se eles, tão gananciosos, investiram muito mais dinheiro do que nós na ação social, do que devemos ser chamados? Jesus exaltou a oferta da viúva, porque os ricos davam o que sobrava enquanto que ela deu o que tinha, mas podemos dizer que estamos dando o que temos? Ou será que queremos ter o agrado do Senhor, que é o mesmo, sem dar coisa alguma?


OBS: O mais triste é que, recentemente, no “escândalo das máfias das sanguessugas”, ficamos a saber que muitos têm se utilizado desta carência de assistência social em nosso meio para se enriquecer ilicitamente, conseguindo transformar uma omissão em meio de escândalo.

- Logicamente que a ação social da Igreja não se limita apenas ao “serviço social”, nem pode se circunscrever ao aspecto material. Por isso, não é desculpa a falta de recursos materiais para não se praticar atos de ação social. Quem não pode vestir, dar de comer ou dar abrigo a alguém, pode consolar, instruir, confortar, visitar. “…A bondade não consiste em dar presentes, mas na doçura e na generosidade do espírito. Pode-se dar dinheiro da algibeira sem nada que venha do coração. A bondade que se contenta com dar dinheiro não vale grande cousa e muitas vezes faz tanto mal como bem, mas a bondade que se traduz por uma verdadeira simpatia e um auxílio oportuno nunca deixa de dar bons resultados(…). A verdadeira bondade procura e favorece tudo o que pode servir para fazer o bem no presente e, olhando para o futuro, trabalha com o mesmo espírito para a elevação e a felicidade da humanidade.…” (Samuel SMILES. Trad. de D. Amélia Pereira. O caráter, p.290-1).


- O salvo pratica boas ações, tem “bondade”(Gl.5:22), que é “a boa qualidade”(na origem da palavra “bonitas”, em latim), é aquele que será convidado pelo Senhor a ingressar nas mansões celestiais porque, como prova de que era ramo da videira verdadeira, deu de comer ao faminto, hospedou o desabrigado, vestiu o desnudo, visitou o enfermo e o preso (Mt.25:34-40). Que Deus nos guarde de uma falsa conversão que, no dia do juízo final, será provada pela ausência de atos de bondade em nossas vidas (Mt.25:41-46). Pelo que temos praticado, qual será o nosso destino diante do Reto e Supremo Juiz? Somos dos “figos bons” ou dos “figos maus” (Jr.24) ? Que Deus nos desperte e que tenhamos benignidade e bondade em nossas ações, que é a ação social da Igreja, a sua missão social.








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