sexta-feira, fevereiro 25, 2011

SAULO DE TARSO, O PERSEGUIDOR







 Escrito por Ronney Willer    Dom, 07 de Fevereiro de 2010 14:17




1. NOTA INTRODUTÓRIA

Para minha pessoa é um grande desafio começar esta série. Sempre tive certa dificuldade em enxergar a vida de Paulo por completo, e de ter uma compreensão geral da sua vida e ministério, dada a complexidade do mesmo.
Depois de muito estudar, acredito que estou preparado para, ao menos, tentar escrever sobre a vida deste personagem fundamental do cristianismo. Dentro das minhas limitações, tentarei mostrar quem foi Paulo, da maneira mais simplificada possível.
Este texto faz parte de uma série de três textos sobre Paulo. Chamá-los-emos de Trilogia de Paulo. Esta série irá apresentar Paulo em três momentos da sua vida. Na realidade, a análise do relato bíblico será dividida em três partes distintas. São elas: Paulo (Saulo) como perseguidor da Igreja, Paulo como aprendiz de Cristo e, por fim, Paulo e seu ministério apostólico entre os gentios.
Não tenho a menor intenção em produzir um estudo exaustivo acerca da biografia de Paulo. Este estudo focará os fatos da vida dele e como o mesmo foi reagindo no decorrer da história. É uma análise da transformação e do desenvolvimento pessoal de Paulo, na sua relação direta com Jesus Cristo.

Muitas vezes Paulo é mostrado como o grande teólogo do Novo Testamento. De fato  ele o é. No entanto, prendendo a nossa a atenção na pessoa de Paulo, poderemos ver que ele tem muito mais a nos ensinar quando o assunto é vida cristã, dia-a-dia com Deus.

2. PAULO ANTES DE ATOS 7. 58

Era seu nome Saulo. Trazia consigo a idéia de ser “desejável” ou ser “semelhante a Saul”. Era isso que queria dizer seu nome. Saulo era seu nome hebraico, assim como sua linhagem.
Saulo era o que podemos chamar de hebreu legítimo, hebreu de linhagem, hebreu de hebreu. Só este fato já serve para entender muito do que era Saulo. Nasceu na cidade de Tarso, capital da Cilícia. Sua cidade era um importante centro comercial e cultural do Império Romano, e isto fazia com que Saulo tivesse outorgado a ele a cidadania romana. Esta cidadania, aliada a sua descendência, fazia com que tivesse trânsito livre por quase todas as cidades e províncias importantes do seu tempo.

Ele fazia parte de uma família que zelava pelos preceitos judaicos. Era um hebreu da tribo de Benjamin. Certamente, o sonho da sua família era que Saulo fosse um grande rabino, e para isso foi criado, segundo o coração dos que eram seus.
Seus pais o mandaram estudar em Jerusalém. Sua irmã morava na cidade, e é muito provável que tenha morado com ela durante o tempo de estudo. Saulo se destaca, e é acolhido por um mestre, Gamaliel, uma das maiores autoridades, se não fosse a maior, de todo o judaísmo da sua época. Tal afirmação se faz clara pelo fato de Gamaliel ser considerado um mestre e Doutor da Lei. No Talmude tem seu nome relacionado ao “Rabban”, que era o título da pessoa que presidia o Sinédrio (para que não sabe, o Sinédrio foi o mais alto tribunal religioso dos judeus, do qual faziam parte os sumos sacerdotes (o atual e os anteriores), chefes religiosos (anciãos) e professores da Lei. Tinha 71 membros, incluindo o presidente – Jo 11. 47). Gamaliel era ainda fariseu, assim como Saulo, e teve uma característica muito interessante no desenrolar da sua biografia: – a tolerância aos cristãos (At 5. 33-39).

Com o passar dos anos, Saulo se tornara um homem de cultura invejável. Era detentor de uma cultura religiosa e secular do mais alto nível. Muitas coisas neste sentido podemos afirmar a respeito dele. Ele era uma pessoa com um vasto conhecimento das Escrituras do Antigo Testamento. Dominava o conhecimento da língua hebraica, o aramaico, o grego e muito possivelmente o latim (como citado acima, ele nasceu em uma importante província romana, e nas vezes que fora preso e interrogado por governadores romanos, muito provavelmente fez sua defesa em latim, a língua oficial do Império Romano). Por último, entre sua erudição secular, demonstra grande conhecimento acerca de pensadores da sua época e do passado. Um exemplo é quando cita o pensador Epimenedes na carta de Tito. Epimenedes foi um reconhecido filósofo do século IV a.C.

Para encerrarmos a descrição do perfil de Saulo, antes da sua primeira aparição no Novo Testamento, ressaltamos um dos fatos mais marcantes da sua personalidade. Saulo não era uma pessoa fácil de lidar. Era um ser duro de coração e insensível com a dor alheia (At 8.1).  É desta maneira que Saulo, com todas as características descritas acima, tem sua primeira aparição na história cristã registrada em At 7. 58.

3.  SAULO, O PERSEGUIDOR INSOLENTE.

Como já dissemos, Saulo foi formado, e toda sua vida foi planejada para que ele se tornasse um grande líder da religião judaica. Ele incorporou este projeto de vida de tal modo, que era inconcebível para sua mente qualquer coisa que ousasse denegrir ou atingir os pontos chaves da sua fé. Neste sentido, em um determinado momento da história, toma para si a responsabilidade de sufocar o cristianismo no seu nascedouro. Saulo acreditava no seu coração que tinha o dever de defender o nome de Deus dos cristãos, mas mal sabia que, na verdade, ele estava tentando defender Deus do próprio Deus. Uma insanidade!
Saulo tinha o anseio de destruir a cristandade. O relato bíblico diz que ele respirava ameaças de morte, isso em At 9.1-2:

V. 1)  Enquanto isso, Saulo ainda respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor. Dirigindo-se ao sumo sacerdote,

V. 2)  pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, de maneira que, caso encontrasse ali homens ou mulheres que pertencessem ao Caminho, pudesse levá-los presos para Jerusalém.”

Os termos usado para descrever o quanto Saulo levava a sério esta sua missão terrível, está no primeiro verso. Trata-se do termo “respirar”. Esta palavra, no grego empineo, é usada para relatar o ato de respiração vital do ser humano, o movimento de inspirar e expirar, o qual sem ele não conseguimos sobreviver mais do que alguns segundos. Da mesma maneira que dependemos da respiração para viver, Saulo dependia da perseguição a Igreja. Era algo extremamente vital para ele. Este termo serve para entendermos a extrema importância que sufocar o cristianismo tinha para a vida de Saulo. O termo respirar é precedido pelo termo “ainda” (isto na tradução da NVI, na Almeida RA o “ainda” aparece depois do “respirar”). Este termo, no grego eti, mostra que a atitude de Saulo era algo constante, que permanecia no presente. Saulo pensava em destruir o cristianismo 24 horas do dia.
Neste momento do relato bíblico, Saulo encontra-se no estágio máximo do seu ódio aos cristãos. Este ódio faz com que muitos discípulos se dispersem. Veja o texto:

At 8.1-3
V. 1) -  Naquele dia levantou-se grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e da Samária.

V. 2) – “E uns homens piedosos sepultaram a Estêvão, e fizeram grande pranto sobre ele. 3Saulo porém, assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, os entregava à prisão.”

Embriagado pela sua fúria, Saulo não foi capaz de perceber que sua ação tomara um caminho totalmente inverso a suas pretensões. Quando tudo vai mal, ainda sim Deus proporciona que as coisas caminhem para algo conforme o seu propósito. Graças à perseguição investida em Jerusalém, os discípulos foram para outras regiões, e nestes lugares começaram a pregar o Evangelho. Foi o início da expansão das Boas Novas além das delimitações de Jerusalém. Até quando Saulo fazia o mal, Deus o usava para o bem. Veja em At 8.4-40 como a mensagem de Cristo alcançou outras localidades.
Saulo se comportava como uma fera. Uma fera sedenta e sem controle. Ele era capaz de atrocidades tremendas. Ele mesmo admitiria mais tarde, na primeira carta a Timóteo que era um homem que blasfemava e que era um perseguidor insolente (1Tm 1.13). Tamanho foi o comportamento de Saulo nesta época de perseguição, que depois de convertido, de ter plantado várias igrejas ao redor do mundo e de ter pregado a salvação em Cristo para muitas pessoas, ele se diz indigno de ser chamado de apóstolo, exatamente por causa das perseguições inferidas por ele aos de Cristo. Veja os textos em que o próprio diz isto:

1 Co 15:9
“Pois sou o menor dos apóstolos e nem sequer mereço ser chamado apóstolo, porque persegui a igreja de Deus.”

Gl 1:13
“Vocês ouviram qual foi o meu procedimento no judaísmo, como perseguia com violência a igreja de Deus, procurando destruí-la.”

Os discípulos estão dispersos. Espalham-se por toda Judá e Samaria. Saulo percebe que seu trabalho será nulo se ele estiver agindo somente em Jerusalém. Da mesma maneira que o Evangelho extrapola os muros da cidade de Davi, Saulo intenta em expandir a sua perseguição, acompanhando o movimento dos cristãos pelos territórios do oriente médio. Para isso busca legitimar a sua perseguição por onde houvesse influência judaica. Resolve, então, em um determinado ponto da história, levar a sua empreitada de terror pela cidade de Damasco. Solicita ao sumo sacerdote cartas de apresentação para as sinagogas da cidade. Tinha em mente encontrar os cristãos desta cidade a fim de levá-los presos para Jerusalém (At 9.2).
Neste contexto podemos levantar alguns traços da personalidade de Saulo e sua relação com a Igreja de Cristo.
A primeira questão é entender que Saulo não queria perseguir as pessoas. Neste momento da história cristã, os seguidores de Cristo eram todos judeus. Os próprios apóstolos entendiam que tudo aquilo que eles vivenciavam intensamente era para os filhos de Jacó, a nação de Israel. Só mais tarde, com as primeiras conversões de gentios que eles puderam entender a magnitude do ministério de Jesus. Ora, os cristãos eram judeus, Saulo era judeu, e por serem seus irmãos ele não teria motivo justo de incursar tal perseguição. Saulo não perseguia as pessoas, ele perseguia uma idéia chamada cristianismo. Por causa da sua fé nas tradições rabínicas, qualquer coisa que lhe parecesse uma ameaça transvertida de cristianismo era, automaticamente, inimigo de Saulo e digno de perseguição.

At 22:4
“Persegui os seguidores deste Caminho até a morte, prendendo tanto homens como mulheres e lançando-os na prisão,”
Veja o termo em destaque. “Caminho” aqui é a palavra em grego hodos, que era largamente usada para designar aqueles que viviam uma vida nos moldes cristãos. É o mesmo termo que aparece em At 9.2.
Muitas vezes nós não nos apercebermos, e acabamos por ter como certo, que Estevão foi o único mártir deste período bíblico. Pelo contrário, muitos crentes morreram por que professavam a sua fé em Jesus Cristo, de maneira irredutível. E muitas destas pessoas foram mortas pela responsabilidade de Saulo. Veja o texto:

At 26:10
“E foi exatamente isso que fiz em Jerusalém. Com autorização dos chefes dos sacerdotes lancei muitos santos na prisão, e quando eles eram condenados à morte eu dava o meu voto contra eles.”

Muitas pessoas foram mortas neste período em nome da perseguição a Igreja de Jesus. E vale ressaltar que muitas destas mortes tiveram um único autor: – Saulo de Tarso. Perceba o final do versículo acima. Saulo diz que “… dava o meu voto contra eles”. Os crentes eram condenados à morte através da ordem de Saulo. Veja outro versículo em que o próprio Saulo afirma tal coisa:

At 22:20
“E quando foi derramado o sangue de tua testemunha Estêvão, eu estava lá, dando minha aprovação e cuidando das roupas dos que o matavam.”

Vocês sabem que o comandante nunca suja as mãos. Uma pessoa comanda e outras obedecem, e era assim que as execuções aconteciam. Saulo dava a ordem e crentes eram executados por causa da sua fé.
Falamos acima que Saulo não perseguia as pessoas, que ele perseguia a idéia chamada cristianismo. Para isso Saulo buscava atingir todas as esferas possíveis desta ideologia.
Eram três as esferas. Duas já pudermos perceber de mineira bem cristalina até este momento. Eram o cristianismo e os cristãos. Só que Saulo não se dava convencido por somente estas duas pilastras, do que ele enxergava como ideologia do mal. Vejamos:

At 26:9
“Eu também estava convencido de que deveria fazer todo o possível para me opor ao nome de Jesus, o Nazareno.”

Saulo não media esforços para se opor ao próprio Cristo. Saulo era, de fato, um grande blasfemador no nome do Senhor Jesus. Uma grande prova que Saulo tinha um dos seus “canhões” mirado para Jesus está em At 26.11, onde ele diz que “Muitas vezes ia de uma sinagoga para outra a fim de castigá-los, e tentava forçá-los a blasfemar…”. Saulo tinha como foco denegrir a imagem de Jesus de qualquer maneira, e um dos caminhos era fazer com que os próprios cristãos injuriassem o nome do seu Senhor.
Este era o homem, Saulo de Tarso, o perseguidor da igreja. No entanto, para a glória do reino de Deus a história desta criatura não continuou assim. Saulo sofreu umas das maiores transformações dentro do que relata a Bíblia. No caminho de Damasco, quando ainda respirava ódio, algo acontece e muda para sempre a vida daquele perseguidor insolente. No próximo texto da Trilogia de Paulo, veremos com isto acontece, e como Saulo passa de perseguidor a aprendiz de Jesus Cristo. Até lá.

Deus o abençoe.

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