sábado, dezembro 01, 2012

MUJIN HANBAI É UM SÍMBOLO DA HONESTIDADE NO JAPÃO. NO BRASIL É INCOMUM.




Por Paulo Pontes
Sempre fui fascinado pelo Japão. Quando adolescente, escrevia para embaixadas e consulados de diversos países solicitando informações para ajudar nas pesquisas escolares. Minhas cartas eram atendias, e recebia os mais variados materiais de consulta sobre política, história, geografia entre outros e principalmente turismo. Ao receber um kit de materiais do Japão maravilhado com o que tinha em mãos.  Não sei expressar porque e o quanto gosto do Japão, mas as belezas naturais, a educação do povo, e a organização do país são marcantes.
Estava conferindo meu perfil do facebook, quando de repente me deparei com uma postagem de uma pessoa amiga que fazia menção às barraquinhas de vendas sem atendentes no Japão. Imediatamente, lembrei-me de ter visto várias dessas barraquinhas quando estive lá. Bateu uma saudade forte. E comecei então, a navegar pela internet a procura de sites e blogs que falassem sobre as curiosas barraquinhas (mujin-hanbai). Lembrei-me também, de uma ocasião em que minha esposa e eu fomos a Mizunami, com o pastor Jorge e sua esposa, e outros irmãos da Missão Jesus é a Resposta. Subindo e descendo a serra de Mizu encontramos algumas dessas barraquinhas às margens da estrada. O que mais chamava a atenção era o fato de não ter vendedores, e em algumas barraquinhas a caixinha para depositar o dinheiro da compra dos produtos, não tinha cadeado. É fácil perceber porque essas barraquinhas são ícones de honestidade do povo japonês.
A honestidade japonesa provada num detalhe: as barraquinhas de vendas sem atendentes.

Mujin hanbai, vendas em barracas sem atendentes que dá certo no Japão! Cultura da honestidade, integridade e confiança. Não se trata de máquinas automáticas que vendem produtos, encontrados em qualquer lugar do Japão. São barracas! Sim, barracas de vendas sem atendentes, feitas a partir de construção bem simples, onde são expostas as mercadorias, normalmente legumes, verduras e frutas frescas para venda. O comprador escolhe o que deseja comprar, e coloca no lugar indicado (um prato, uma bacia, uma caixa) o dinheiro correspondente ao que comprou e vai embora. Ninguém atende neste tipo de comércio.
Esse tipo de comércio é bastante comum no interior do Japão, principalmente nos lugares onde existe uma grande circulação de veículos. Até aí tudo normal, mas o grande diferencial, como se pode conferir nas fotos, é que não existe nenhum "atendente". Funciona como um self-service. A pessoa pega a quantidade de produtos que desejar, e paga conforme o que está marcado nas plaquinhas.
Em seu blog (Otome Tea Time!), Kurai Hikari diz que o motivo dessa iniciativa deve-se ao fato de que pessoas que possuem hortas artesanais costumam ser bastante ocupadas ou então por serem já pessoas de idade que não podem ficar paradas na estrada esperando por clientes.
Qual a garantia de que os vendedores não serão roubados, ou que receberão de seus compradores? Neste aspecto não existe nenhuma garantia para os donos das barraquinhas. Eles contam apenas da honestidade dos clientes (muitas vezes desconhecidos), qualidade essa que os japoneses prezam muito.
Essa barraquinha comum no Japão, chamada de 無人販売 (むじんはんばい, mujin-hanbai, literalmente venda sem pessoas, é verdadeiramente um ícone de honestidade!
Um blogueiro, Nihil Lemos, em seu blog, comenta que geralmente cada produto custa ¥100 (cem ienes), que equivale aproximadamente a R$ 2,11 e o dinheiro é depositado numa caixinha que é fechada com um cadeado dos mais simples. Fica a pergunta: no Brasil, essas barraquinhas de vendas dariam certo? Não!
Uma barraca de vendas no Brasil não daria pelo simples motivo de que esta estaria vulnerável. Provavelmente uma barraca dessas ficaria vazia em pouco tempo. Seria facilmente roubada por “clientes desonestos” devido à ausência de um atendente. No Japão os clientes colocam as moedas de ¥100 (cem ienes), para comprar os produtos. Sim, para comprar um saco de batatas ou cebola, por exemplo, basta colocar essa moedinha.
Poderiam levar tudo de graça e inclusive a caixinha de moedas, visto que essas barracas são encontradas geralmente em lugares de pouquíssimo movimento. Mas não. Os japoneses pagam mesmo assim!
É assim que o Japão constrói a sua sociedade. Com honestidade e disciplina.
A honestidade japonesa sempre foi vista como algo comum. É natural um japonês encontrar uma carteira ou um envelope de dinheiro e devolver sem sequer contar o valor do conteúdo.
No Japão notícias assim não chegam a surpreender. A prova é a mídia daqui não ter dado tanta atenção.
No Brasil isso é incomum. Um honesto vira motivo de chacota.
Em janeiro de 2008 o caminhoneiro Valdir Costa dos Santos, morador em Curitiba (PR), devolveu ao verdadeiro dono R$ 17 mil que encontrou em uma bolsa perdida no estacionamento do posto de combustível Bola Branca, às margens da BR-153, em Promissão, interior de São Paulo.

O dinheiro pertencia ao engenheiro agrônomo José Carlos de Oliveira, morador de Lins (SP), que parou no posto para almoçar com a família e deixou cair a pochete com os R$ 17 mil que seriam usados para comprar gado.
Valdir, pai de cinco filhos, gastou seu próprio dinheiro tentando encontrar o dono do dinheiro. Quando o encontrou, devolveu os R$ 17 mil, intactos.
O engenheiro tentou retribuir o gesto ao caminhoneiro, que não aceitou a recompensa. "Eu disse a ele que se quisesse, poderia orar por mim e pela minha família, que já estava bem pago", contou o caminhoneiro, que reconheceu que sua atitude de devolver o dinheiro não deveria ser vista como uma coisa rara. Seu gesto passou a ser motivo de chacota. Por ter sido honesto começaram a chamá-lo de "burro", por ter devolvido o dinheiro. "Eles dizem que ganhei o troféu da burrice, que fui um idiota em devolver o dinheiro, porque o dono é rico", contou.
"Mas o que quero é servir de espelho e de bom exemplo para meus filhos. Quero que eles, meus amigos e meus patrões me vejam como uma pessoa honesta, isso não tem dinheiro que paga". (Leia a notícia)
Infelizmente, no Brasil ainda “está em vigor” a "Lei de Gerson".
Na cultura brasileira, a “Lei de Gerson” é um princípio em que determinada pessoa age de forma a obter vantagem em tudo que faz, no sentido negativo de se aproveitar de todas as situações em benefício próprio, sem se importar com questões éticas ou morais. A "Lei de Gérson" acabou sendo usada para exprimir traços bastante característicos e pouco lisonjeiros do caráter midiático nacional, associados à disseminação da corrupção e ao desrespeito a regras de convívio para a obtenção de vantagens pessoais.
A expressão originou-se em uma propaganda de 1976 criada pela Caio Domingues & Associados, que havia sido contratada pela fabricante de cigarros J. Reynolds, proprietária da marca de cigarros Vila Rica, para a divulgação do produto. O vídeo apresentava o meia armador Gérson da Seleção Brasileira de Futebol como protagonista. O vídeo inicia-se associando a imagem de Gerson como "Cérebro do time campeão do mundo da Copa do mundo de 70" sendo narrado pelo entrevistador de terno e microfone em mão, que se passa em um sofá de uma sala de visitas, este entrevistador pergunta o porque de Vila Rica, que durante a resposta recebe um cigarro de Gerson e acende enquanto ouve a resposta, que é finalizada com a frase:
"Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!".
Mais tarde, o jogador anunciou o arrependimento de ter associado sua imagem ao anúncio, visto que qualquer comportamento pouco ético foi sendo aliado ao seu nome nas expressões “Síndrome de Gérson” ou “Lei de Gérson”. O diretor do comercial, José Monserrat Filho, procurando se eximir de responsabilidade, sustenta que o público fez uma interpretação errônea do seu video: "Houve um erro de interpretação, o pessoal começou a entender como ser malandro. No segundo anúncio dizíamos: “levar vantagem não é passar ninguém para trás, é chegar na frente”, mas essa frase não ficou, a sabedoria popular usa o que lhe interessa". Nos anos 80 começaram a surgir sujeiras, escândalos e a população começou a utilizar o termo "Lei de Gerson".
O que é Honestidade?
Honestidade é uma qualidade de ser verdadeiro; não mentir, não fraudar, não enganar. A honestidade é a honra, uma qualidade da pessoa, ou de uma instituição, significa falar a verdade, não omitir, não dissimular. O indivíduo que é honesto repudia a malandragem a esperteza de querer levar vantagem em tudo.
Honestidade, de maneira explícita, é a obediência incondicional às regras morais existentes. Existem alguns procedimentos para alguns tipos de ações, que servem como guia, como referência para as decisões. Exercer a honestidade em caráter amplo é muito difícil, porque existem as convenções sociais que nem sempre espelham a realidade, mas como estão formalizadas e enraizadas são tidas como certas.
Para muitos, a pessoa honesta é aquela que não mente, não furta, não rouba, vive uma vida honesta para ter alegria, paz, respeito dos outros e boas amizades. Atualmente, o conceito de honestidade está meio deturpado, uma vez que os indivíduos que agem corretamente são chamados de "careta", ou são humilhados por outros.
Paulo Pontes
Fonte: http://searanews.com.br/

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